AS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DE PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA

 

Vanessa Cristiane Rodrigues Bohn (UFMG/CNPq)

 

 

 

RESUMO: Este trabalho apresenta um estudo sobre Estratégias de Aprendizagem de Professores de Língua Inglesa tendo como suporte teórico a taxonomia de Oxford (1990). Foram analisadas 29 narrativas de professores de inglês de cursos de idiomas e de uma escola pública federal de Belo Horizonte. Os dados revelam que esses profissionais desenvolveram diferentes estratégias de aprendizagem ao longo de sua aprendizagem.

 

PALAVRAS – CHAVE: narrativas de aprendizagem e estratégias de aprendizagem.

 

 

ABSTRACT: This paper presents the study about Learning Strategies for teachers of English having as theoretical support Oxford’s taxonomy. The data analyzed were 29 narratives from teachers of English from English courses and one public school in Belo Horizonte. The data disclose that these professionals developed different learning strategies throughout their learning.

 

KEY –WORDS: learning narratives and learning strategies.

 

1. INTRODUÇÃO

A aquisição da língua estrangeira (LE) é um assunto discutido por muitos pesquisadores da área de Lingüística Aplicada no mundo inteiro. O objetivo desses pesquisadores é analisar como os indivíduos aprendem uma língua estrangeira. Dentro da Literatura sobre aquisição da LE, encontramos diversas teorias sobre o assunto, como por exemplo, as Teorias de Krashen, e suas cinco hipóteses sobre aquisição: the Acquisition-Learning hypothesis, the Monitor hypothesis, the Natural Order hypothesis, the Input hypothesis, and the Affective Filter hypothesis. Temos também estudos baseados na teoria Sócio-cultural de Levi Vygotsky, que diz que a interação social tem um papel fundamental no desenvolvimento da cognição infantil. Embora sua teoria não tenha sido criada para a aprendizagem de línguas, ela foi bem adaptada na área de segunda língua, pois a aprendizagem de LE ou L2 também acontece através da interação com outros indivíduos.

Dentre os estudos de aquisição de LE, alguns pesquisadores como Oxford (1998) e O’Malley e Chamot (1990) vêm desenvolvendo trabalhos sobre as estratégias de aprendizagem utilizadas pelos indivíduos que estudam uma língua estrangeira ou uma segunda língua.

O projeto AMFALE (Aprendendo com Memórias de Falantes e Aprendizes de Língua Estrangeira), sob a coordenação da Professora Vera Menezes (Faculdade de Letras – UFMG), também busca investigar não só como os alunos, mas também professores de seis línguas: Alemão, Espanhol, Francês, Inglês, Italiano e Português como língua estrangeira (LE) aprendem essas línguas.

Atualmente, o projeto disponibiliza um corpus eletrônico com mais de 500 narrativas, subdivididas em narrativas de alunos, professores dos idiomas e de pesquisadores participantes do AMFALE. Todas essas narrativas encontram-se no site do projeto < http://www.veramenezes.com/amfale.htm>.

Dentro do meu trabalho como bolsista/pesquisadora, optei por investigar como um grupo de professores de língua inglesa aprenderam a língua que atualmente lecionam. Para tanto utilizarei suas narrativas de aprendizagem, buscando identificar quais foram às estratégias de aprendizagem utilizadas. Como embasamento teórico, utilizarei as propostas de Oxford (1990).

2. TEORIA: ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM

Durante o processo de aprendizagem da língua inglesa, cada aprendiz desenvolve alguma estratégia para auxiliar no seu aprendizado. Alguns ouvem músicas de seus cantores favoritos para aprimorarem a compreensão oral, aumentar o conhecimento de vocabulário; outros preferem ver filmes e há àqueles que formam grupos de conversação para praticar o inglês.

Vários estudiosos começaram a investigar a respeito das estratégias de aprendizagem utilizadas pelos aprendizes de inglês como segunda língua. Destacam-se nesses estudos, pesquisadores como Oxford (1990), O’Malley e Chamot (1990) e Cohen (1998).

Oxford (1990) define as estratégias de aprendizagem como:

“ações realizadas pelos alunos para ampliar sua própria aprendizagem(...) ações realizadas pelos aprendizes de segunda língua e língua estrangeira para controlar e melhorar sua aprendizagem”.[1]*

 

Outra definição que merece atenção é a de O’Malley e Chamot (1990) que conceitua estratégias como um:

“processo na qual são conscientemente selecionados pelos aprendizes e que podem resultar em ações realizadas para ampliar o aprendizado ou o uso da segunda ou da língua estrangeira do aprendiz.[2]*

 

As duas definições acima mostram semelhanças entre si, principalmente pelo uso do verbo ampliar, ou seja, os aprendizes buscam maneiras de aprimorar seu aprendizado em diversas situações.

Oxford dividiu as estratégias de aprendizagem em dois grupos: estratégias diretas e indiretas e esses dois grupos se subdividem em três grupos cada, conforme mostra o diagrama abaixo:

 

 

Diagrama das estratégias de aprendizagem de acordo com Oxford (1990 p.16).

 

As estratégias diretas estão relacionadas á processos de aprendizagem, ou seja, como que os aprendizes irão lidar diretamente com a língua alvo. Segue uma síntese com as principais características de cada estratégia.

Estratégia de memória: a utilização dessa estratégia permite ao aprendiz armazenar as novas informações sobre a língua-alvo. Para que essa estratégia seja bem utilizada, Oxford (1990) sugere que ela seja usada simultaneamente com a estratégia metacognitiva e com a estratégia afetiva. Como exemplo de estratégias de memória temos, o uso de imagens e sons, uso de rimas, utilização de palavras-chave, substituição de novas palavras em um contexto.

Estratégias Cognitivas: essa é uma das estratégias essenciais na aprendizagem de uma nova língua. Tanto Oxford quanto O’Malley e Chamot concordam sobre sua importância. O aprendiz utiliza a estratégia cognitiva quando ele compreende e produz uma nova informação. Os meios utilizados dentro dessa estratégia são: praticar através da repetição, praticar os sons da língua, fazer anotações ou resumos sobre as novas informações adquiridas, assistir filmes, seriados de TV, noticiários, ouvir música.

Já as estratégias de compensação permitem ao aluno utilizar a língua mesmo que ele não tenha conhecimento suficiente. Suas limitações são compensadas através do uso dessas estratégias, como adivinhar o significado da palavra desconhecida, usar pistas lingüísticas como prefixos, recorrer à língua materna, usar mímicas e gestos.

O segundo grupo de estratégias de aprendizagem; as estratégias indiretas, diz respeito à gestão da aprendizagem (Oxford1990, p.15). Nessa classe, temos as estratégias metacognitiva, as estratégias afetivas e as estratégias sociais.

Estratégias metacognitiva são ações que os aprendizes executam para coordenar o seu próprio aprendizado, através do planejamento, avaliação e controle. São exemplos das estratégias metacognitiva: prestar atenção quando alguém esta falando, estabelecer metas e objetivos, procurar oportunidades para praticar auto-avaliação e auto-monitoramento.

Estratégias afetivas

Os aspectos afetivos como emoção, atitudes, motivação e valores são fatores que influenciam na aprendizagem da língua. Para que o aprendiz tenha o controle sobre esses fatores, ele desenvolverá as seguintes estratégias afetivas: diminuir sua ansiedade ouvindo música, respirando fundo, encorajando-se criando afirmações positivas, gratificando-se e medindo sua temperatura emocional através da discussão dos seus sentimentos com alguma pessoa, fazer observações se está tenso ao usar a língua-alvo.

Noiman e Todesco (1975), dois estudiosos sobre as atitudes e sentimentos envolvidos na aprendizagem da L2, dizem que o lado afetivo do aprendiz é provavelmente uma das maiores influências no sucesso ou fracasso da aprendizagem da língua. Os bons aprendizes são aqueles que sabem como controlar suas emoções e atitudes em relação á aprendizagem.

A última estratégia apresentada nesse grupo das estratégias indiretas é a social. A sua utilização permite ao aprendiz aprender a língua através da interação e da colaboração com outros indivíduos sejam estes aprendizes ou falantes da língua-alvo. Alguns exemplos das estratégias sociais são: fazer perguntas, pedir esclarecimentos, pedir correções, cooperar com os outros, praticar a língua com outros alunos e aprender a cultura da língua.

A partir desse pressuposto de que todo aprendiz de língua inglesa cria ou utiliza uma estratégia em prol de seu aprendizado, analisarei dentro das narrativas de professores de inglês quais foram às estratégias de aprendizagem utilizadas por eles.

3. METODOLOGIA

Na área de Lingüística Aplicada, existem vários métodos para a obtenção de dados para análise do processo de aquisição da L2 e LE. Dentre esses métodos de pesquisa estão; entrevistas, o uso de questionários e a coleta de narrativas dos aprendizes.

As narrativas de aprendizagem de língua inglesa tem sido o foco da atenção para muitos pesquisadores como Murphy (1999), Pavlenko (2000) e no Brasil temos trabalhos de Paiva (2006), Telles (2004), dentre outros. Através do relato dos aprendizes, pode-se obter informações bastante significativas para entender como estes indivíduos aprendem uma língua estrangeira, pois encontramos relatos das experiências pessoais, profissionais, seus anseios e crenças diante da língua estudada.

Cohen (1998) apresenta seis métodos para investigar as estratégias de aprendizagem:

• Entrevistas e questionários;

• Observações,

• Relatório verbal;

• Diários e diários dialogados

• Estudos retrospectivos

• Monitoramento via computador

 

A coleta dos dados foi feita através de entrevistas e para que os professores tivessem um ponto de partida, eu utilizei apenas uma pergunta que foi feita para todos os participantes: “Como foi a sua aprendizagem da língua inglesa?” Através dessa pergunta os professores começaram a narrar suas histórias. Cohen (1998) classifica esse método como entrevista semi-estruturada, pois uma pergunta foi proposta para auxiliá-los. Além disso, o uso das narrativas permite ao aprendiz ter liberdade de se expressar e relatar a sua história.

Para este estudo, foram coletadas, durante os meses de agosto de 2005 a janeiro de 2006, vinte e nove narrativas de professores de língua inglesa. Alguns lecionam em uma escola pública federal outros em cursos livres de idiomas. Nos primeiros meses, eu ia às escolas para coletar essas narrativas através de um gravador digital com a devida autorização dos professores. Em setembro, eu contei com a colaboração do aluno Pedro Henrique Martins, bolsista do projeto PROVOC - Programa de Vocação Científica - que também me auxiliou tanto na coleta das narrativas quanto no processo de transcrição das mesmas. Todos os professores autorizaram a publicação de suas narrativas no site do projeto, onde estão disponíveis os áudios com suas respectivas transcrições no endereço:

<http://www.veramenezes.com/nar_prof.htm>

            No período em que eu estava coletando as narrativas dos professores, eu estava também, matriculada numa disciplina online da graduação intitulada CALL – Computer Assisted Language Learning, ministrada pela Professora Vera Menezes no 1º semestre de 2005. No decorrer desse curso, nós fomos convidados para participar de um projeto chamado IBUNKA[3] da Universidade de Menkai no Japão organizado pelo Professor Masahito Watanabe. Como a língua usada para comunicação era o Inglês, tive a idéia de mandar um e-mail para o senhor Watanabe explicando sobre a minha pesquisa e que eu gostaria de receber dos professores participantes suas narrativas sobre a aprendizagem do inglês.

Dois professores participantes do IBUNKA me enviaram suas narrativas por e-mail. O professor Elias Nyakunu da Namíbia e o professor Kasami do Japão. Suas narrativas encontram-se nos links: http://www.veramenezes.com/pfing1.htm e http://www.veramenezes.com/pfing2.htm.

Tendo coletado os dados e me embasado teoricamente, dei inicio à análise das narrativas de aprendizagem dos professores de inglês. Como já mencionei, o meu objetivo é identificar quais foram as estratégias de aprendizagem utilizadas por cada professor durante a aquisição da língua inglesa.

 

 

 

4. ANÁLISE DAS NARRATIVAS

As narrativas de aprendizagem dos professores de inglês oferecem muitas informações sobre como foi o processo de aprendizagem da língua. Analisar esse processo, tendo como material de pesquisa suas narrativas me permitiu ter acesso a dados de grande valia sobre suas experiências e expectativas diante da língua.

Dos seis grupos de estratégias de aprendizagem propostos por Oxford (1990), procurei nas narrativas dos professores quais foram as estratégias de aprendizagem mais utilizadas. Para tanto, construí um quadro com as porcentagens do uso dessas estratégias.

29 Professores

Estratégias

Porcentagem

27

Cognitivas

93,10%

19

Sociais

65,51%

 

Abaixo, temos um quadro comparativo com os principais recursos utilizados pelos professores ao longo da aprendizagem da língua inglesa.

29 Professores

Estratégias

Porcentagem

15

Viajar para o exterior

51,72%

9

Ouvir música

31,03%

5

Assistir filmes

17,54%

4

Ler

13,79%

3

Assistir TV a cabo

10,34%

2

Uso da Internet

6,89%

1

Conversar com colegas

3,44%

1

Uso de penpal friends

3,44%

1

Uso do dicionário

3,44%

1

Decorar

3,44%

1

Traduzir

3,44%

 

Analisando as narrativas de aprendizagem, encontrei vários exemplos que mostram a importância e a eficácia das estratégias cognitiva e social. Como vimos no item dois deste artigo, a principal função da estratégia cognitiva é permitir a compreensão para que o aprendiz possa produzir novos enunciados. A produção desses novos enunciados se dá através da manifestação ou transformação da língua-alvo.

O aprendiz que utiliza a estratégia cognitiva tem a capacidade de colocar em pratica o que é aprendido e muitos professores citaram o que eles faziam para praticar a língua inglesa, ou seja, suas estratégias cognitivas. Vejamos o primeiro exemplo:

[ 1 ] (…)when I was like 15 well maybe younger like when I was 14, I started , I had internet at home so I used to talk to people on the internet. So I practiced and I had cable TV so I could watch Sitcoms and TV series in English, so I’m kind of learn so liked so now I loved it and I teach it so I have to love otherwise its impossible. http://www.veramenezes.com/profaudioing3.htm

 

Atualmente, a Internet tem sido uma importante ferramenta no ensino/ aprendizagem da língua inglesa. O uso de forma correta permite ao aprendiz a entrar em contato com outros povos e culturas. Nesse trecho, a professora utilizava a Internet como forma de interação com outras pessoas para praticar o inglês. Aqui, não temos o relato de como era feita essa interação, se era através de salas de bate-papo, onde ela estaria se comunicando utilizando a escrita ou se era através do uso de áudio. Entretanto, independente da forma que ela utilizava, a comunicação estava acontecendo.

Nesse mesmo trecho temos o uso da TV a cabo para a prática da língua inglesa. Oxford (1990) fala da importância do uso da TV na aprendizagem considerada por ela como uma ótima fonte para se praticar a habilidade da escuta. Ela ainda cita o uso das novelas por ser um meio em que o aluno irá praticar essa habilidade e, ao mesmo tempo, aprender um pouco sobre os aspectos culturais da língua inglesa.

Praticar a língua através da leitura também foi descrito nas narrativas, como mostra o quadro, 13,73% dos professores utilizavam livros, revistas para aprimorar sua aprendizagem. O que me chamou a atenção foi o fato de que esses materiais eram disponibilizados em suas próprias casas. Ou seja, o material como fonte de aprendizagem da língua inglesa era acessível aos aprendizes.

[2] Minha mãe tinha uma enciclopédia dessas que compra para ensinar Inglês em banca de revista e eu ouvia muito aquelas fitas, fazia muitos exercícios daqueles livrinhos, então a maneira que eu estudava era essa. (...)

 http://www.veramenezes.com/profaudio13.htm

 

 [3] I read a lot of novels (fiction, biographies, etc.), magazines, newspapers, quizzes and puzzles. Reading such material has been useful when it comes to learning written or oral styles. It helped me with comprehension as well.

http://www.veramenezes.com/pfing1.htm

 

 

 

O uso de materiais autênticos no auxilio da aprendizagem, como assistir TV, fazer leituras de revistas, livros; demonstra que esses professores buscaram praticar a língua inglesa utilizando os meios que estavam ao seu alcance.

Notamos que dos 51,72% dos vinte e nove professores participantes tiveram a oportunidade de aprimorar a língua inglesa ou até mesmo aprende-la através de viagens ao exterior. Muitos professores contaram que foram estudar ou morar no exterior por vontade própria para estar em contato com a cultura da língua. No excerto [4] a professora conta que foi morar muito cedo nos Estados Unidos por causa do trabalho do pai:

[4] Eu comecei a estudar Inglês, na verdade, muito cedo, porque meu pai teve que viajar para o exterior para fazer mestrado nos Estados Unidos e a família foi toda junta. Na verdade na foi uma escolha, foi uma imersão total com 6 anos. Eu estava começando o processo de alfabetização aqui e fui para lá, fiquei lá até os 9 com a minha primeira, segunda e terceira séries, que hoje é fundamental 1, foram feitos lá e chegando aqui eu fiquei no esquema de Inglês de colégio, só, até a maioridade mesmo.(...)  http://www.veramenezes.com/profaudio11.htm

 

Estar em contato com outras pessoas falantes nativas ou aprendizes da língua inglesa é um exemplo nítido do uso das estratégias sociais. Para Vygotsky (1978), a interação social tem um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo do ser humano. Embora sua teoria não tenha sido especificamente direcionada à aquisição da segunda língua, ela foi bem aceita e aplicada ao ensino/aprendizagem de línguas.

Nos trechos abaixo, notamos como a interação com outras pessoas, seja fora do país ou não, foi uma estratégia utilizada para o enriquecimento da língua inglesa.

[5] In the beginning was really hard. I had only the Basic English when I went to America first time. But up there in America I lived in a very small town so I didn’t have any foreigners to speak I had to speak only with the Americans all the time. And then I learned very fast like in three months there I could speak everything. (…)http://www.veramenezes.com/profaudioing4.htm

 

 

[6] (...) eu conversava com meus colegas por telefone, os colegas que faziam Inglês na época, comigo, em Inglês, aquele Inglês todo errado, tipo: “I goed”... mas enfim, a gente conversava, um ia corrigindo o outro para a gente aprende mesmo e praticar, dentro da sala de aula a gente sempre conversava em Inglês num nível mais avançado do meu aprendizado.Essa professora que era bilíngüe era também nossa amiga, nossa sala só tinha 3 alunos ou 4 e nos 4 mais o professor éramos amigos íntimos então depois da aula a gente permanecia na sala de aula conversando sobre assuntos pessoais mesmo mas tudo em Inglês, era uma forma de a gente praticar, ás vezes na rua, a gente saía e conversava em Inglês, a gente sempre aproveitava as mínimas oportunidades que tínhamos.

http://www.veramenezes.com/profaudio13.htm

 

 

Nas narrativas cinco e seis, temos o exemplo de como esse aspecto social influi na aprendizagem. No trecho cinco, o professor conta como foi a sua experiência nos Estados Unidos e o fato de não ter tido contato com outros imigrantes foi um aspecto positivo para ele, pois dessa forma não haveria a influência da língua materna no seu aprendizado.

No trecho seis, a professora conversava com seus colegas em diversas situações, como ela mesma disse: “a gente sempre aproveitava as mínimas oportunidades que tínhamos.” Mesmo comentendo erros gramaticais como ela relata, não houve nenhum prejuízo para a sua aprendizagem porque havia uma troca de conhecimentos ali, onde um colega corrigia os erros do outro e dessa forma a comunicação e a aprendizagem entre eles ia acontecendo.

Outra experiência no exterior é contada na narrativa sete. Aqui o professor conta que teve contatos não só com Americanos, mas também com pessoas de outros países que estavam nos Estados Unidos para aprender inglês.

 

[7] (...) eu fui para os Estados Unidos, em uma escola de Inglês para Estrangeiros. Foi uma experiência muito legal, fiquei lá por 3 meses. Eu tive a oportunidade de estudar com pessoas de todos os lugares do mundo que tinham ido para lá para estudar Inglês, a gente ficava na escola e a única língua em comum que existia era o Inglês, eu tinha colegas da Suíça, da Islândia, do Japão, das Filipinas, da Argélia, do Irã, então, você tinha que falar Inglês, não tinha jeito. Depois disso eu passei 3 meses com uma família Americana, também foi uma experiência muito legal, aí eu voltei para o Brasil e continuei estudando Inglês.(...)

http://www.veramenezes.com/profaudio10.htm

 

 

Esses quatro exemplos mostram que além dos professores utilizarem um aspecto cognitivo, que é colocar em prática a língua inglesa, eles buscavam se socializar com outros aprendizes ou falantes nativos da língua inglesa. Para Oxford (1990, p.76) conversar com outras pessoas em ambientes naturais promove interação, rapidez e comunicação pessoal. Além disso, a autora diz que.

estar no país ou na comunidade onde a língua alvo é falada nativamente, tanto como residentes permanentes ou como visitantes temporários é a melhor forma para se encontrar oportunidades para praticar a fala. Morar num país onde a língua é normalmente falada é uma imersão informal na língua e na cultura.” [4]*.

 

Outra prática utilizada para a aprendizagem da língua foi a utilização do Pen friends para se comunicar com outros estudantes da língua inglesa. Embora esse método tenha sido utilizado apenas por um professor, o seu uso envolve tanto a estratégia cognitiva; porque aqui o professor estava praticando a língua através da habilidade da escrita, quanto à estratégia social, pois havia uma comunicação entre pessoas como um objetivo em comum. Vejamos o depoimento:

 

[8] O contato que eu tive com estrangeiros foi na época que eu estava fazendo Inglês e que eu estava fazendo outras Línguas, mas a gente não tinha a internet tão amplamente disponível como é hoje, hoje todos tem acesso, naquela época a gente não tinha tanto acesso, então, eu entrei para um clube que se chamava penfriends, era um clube, que você pagava uma taxa “x” e você falava com quais países você gostaria de ter contato com pessoas em tal língua. Aí eu escolhi 5 países, em que eu queria ter contato em Inglês. Depois disso eles te mandam uma lista de 12 ou 15 pessoas, alguma coisa assim, com endereços delas no outro país e seu nome também é mandado para aquelas pessoas naqueles países que entraram para esse clube. Aí eu comecei a entrar em contato com eles, através de cartas. Então, eu tinha contato com pessoas que eram falantes nativas do Inglês, que eram de países de Língua Inglesa como também com as pessoas que não eram falantes nativas porque não moravam no país onde a Língua Inglesa era falada.

             http://www.veramenezes.com/profaudio19.htm

 

 

Embora Oxford (1990) não tenha classificado dentro dos grupos de estratégia de aprendizagem a prática de lecionar, muitos professores citaram que quando eles começaram a lecionar inglês, a docência foi uma forma de aprender e praticar o que eles tinham aprendido,como mostram nos trechos 9 e 10 :

 

[9] então eu considero que essa experiência foi maravilhosa para o meu aprendizado do Inglês, porque ao mesmo tempo em que eu estava ensinando, eu estava aprendendo porque eu tive oportunidade de toda vez que eu ia dar uma aula, eu tinha que prepara revisar a matéria que eu já tinha visto e eu fui aprendendo como me portar diante de outras pessoas, então, questão de argumentação e de poder passar o que eu havia aprendido então a questão de eu falar o Inglês, desenvolver a minha linguagem, ajudou bastante.

http://www.veramenezes.com/profaudio17.htm

 

 

 

[10] Well I don’t intend to stop teaching; I mean it’s very nice because you are in content with language, and you can practice at the same time and you can teach what you know and you can learn more, so that’s about it.

http://www.veramenezes.com/profaudioing1.htm

 

 

A análise das narrativas dos professores comprova que o uso das estratégias sociais é sempre associado a uma estratégia direta, como escrever para alguém, interagir com falantes proficientes ou não, etc.

 

 

5. CONCLUSÃO

O processo de aquisição da língua inglesa é um sistema complexo que exige dos pesquisadores uma investigação minuciosa para buscar evidências sobre como a pessoa aprende a língua.

Utilizando as narrativas de aprendizagem dos professores tive acesso a informações que, possivelmente, seriam impossíveis se eu tivesse utilizado outro material de pesquisa. Os dados coletados nas narrativas comprovam que esses professores utilizaram estratégias que pudessem auxiliá-los na aquisição da língua, tais como, viagens ao exterior, utilização de materiais autênticos e de fácil acesso como TV, revistas, jornais, conversar com outros aprendizes ou falantes nativos da língua.

O uso de estratégias cognitivas e sociais foi uma forma encontrada pelos professores para estar em contato com a língua inglesa, aumentando sua oportunidade de uso. Além disso, o uso dessas estratégias foi contextualizado de acordo com a necessidade, questão social e principalmente com o grau de motivação que cada professor apresentou ao longo da aprendizagem.

O resultado me levou a concluir que esses professores foram bem sucedidos no processo de aprendizagem da língua inglesa e que esse sucesso foi obtido pelo uso conjunto das estratégias sociais e cognitivas, pois o uso dessas duas estratégias permite ao aprendiz aprender a língua e, ao mesmo tempo, colocá-la em prática em situações reais.

 

 

 

6. BIBLIOGRAFIA

 BRITTON, Bruce K., PELLEGRINI, Anthony D. Narrative Thought and Narrative Language. Lawrence Erlbaum Associates, Publishers. Hillsdale, New Jersey, 1990. (Capítulos 1 e 3)

 

 Cohen, A.D. Strategies in Learning and Using a Second Language.  Essex, U.K.: Longman, 1998.

 

 CLANDININ, D; CONNELLY, J. Narrative inquiry. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 2000. (Capítulos 1 e 4).

 

 O'Malley, J.M. & Chamot, A.U. Learning Strategies in Second Language     Acquisition. Cambridge, U.K.:  Cambridge University Press, 1990.

 

 Oxford, R.L. Language Learning Strategies: What Every Teacher Should Know.  Boston:  Heinle & Heinle, 1990.

 

 TODOROV, I. As estruturas narrativas. Trad. Leyla Perrone Moisés. São Paulo: Perspectiva, 1979.

 

 

 

 

 

 



[1] “steps taken by students to enhance their own learning (..) actions taken by second and foreign language learners to control and improve their own learning.”

 

[2] “process which are consciously selected by learners and which may result in action taken to enhance the learning or use of a second or foreign language learner(...)”.

* Tradução minha.

 

[3] O Projeto IBUNKA cujo significado é culturas diferentes, foi baseado no sistema de “bulletin boards” onde alunos de diversos países como Japão, Coréia, México, Paquistão e nós do Brasil trocávamos e-mail e participávamos de discussões sobre diversos assuntos propostos pelo Professor Watanabe.

 

 

[4]  Being in the country or community where the target language is spoken natively, either as a permanent resident or a temporary visitor, is the best way to find opportunities for practice in speaking. Living in a place where the language is spoken is an informal immersion in the language and culture.