Sinais de Variáveis Afetivas e de
Autonomia em Narrativas de Aprendizagem de Inglês como Língua Estrangeira
Karine Patrícia Dias Cardoso[1]
Diógenes Cândido de Lima[2]
Resumo
Assumindo que a questão da afetividade pode influenciar positiva ou negativamente a aquisição de língua estrangeira e considerando a autonomia um outro fator que tem poder de interferência nesse processo, o presente trabalho objetiva identificar sinais de variáveis afetivas e de comportamento autônomo em narrativas de aprendizagem da Língua Inglesa – escritas, no ano de 2004, por graduandos e graduados do Curso de Letras com Inglês da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. A partir de uma análise qualitativa, verifica-se que motivação e desmotivação, bem como atitudes positivas e negativas representam as variáveis de afetividade mais freqüentes nos registros de memória daqueles aprendizes, as quais, por sua vez, mantêm estreita conexão com os elementos, a saber: professor, metodologia, conteúdo e materiais empregados no ensino da língua estrangeira. No que diz respeito ao fenômeno da autonomia, a partir das narrativas de aprendizagem em questão, constata-se que este varia de aprendiz para aprendiz; acontece, essencialmente, fora do ambiente da sala de aula; manifesta-se num menor grau de independência e controle sobre o processo de aprendizagem; e influencia-se por fatores internos (como desejo de aprender, características afetivas do aprendiz) e por fatores externos (como condição socioconômica).
Palavras-Chave: afetividade, autonomia, narrativas, Língua Estrangeira.
Abstract
This paper has the objective of identifying
signs of affective variables and of autonomous behavior in learning narratives
of English as a Foreign Language, written in 2004 by graduates and
undergraduates of the Course of Letters, with a concentration in English, from
the State University of Southwest Bahia. Starting with a qualitative analysis,
it is verified that motivation and the lack of it, as well as positive and
negative attitudes represent the most frequent occurrence of affectivity in the
minds of these learners. These affectivities maintain narrow connection with
elements, such as: teacher, methodology, content and materials used in the
teaching of a foreign language. In relation to autonomy, it is verified that it
varies from apprentice to apprentice; it happens, essentially, out of the
classroom; it shows itself in a smaller degree of independence on the learning
process; and it is influenced by internal factors (such as desire to learn, the
apprentice's affective characteristics) and by external factors (such as
socioeconomic condition).
Key Words:
affectivity, autonomy, narratives, Foreign Language.
Introdução
A abordagem comunicativa – que para alguns, a exemplo de Orellana (1997), surgiu da insatisfação com métodos de ensino de língua estrangeira bastante utilizados antes das décadas de 70 e 80 do século XX, tais como: o gramática e tradução, o audiolingual, – acabou promovendo mudanças significativas quer seja no tratamento dado à língua, quer seja na redefinição dos papéis de aluno e de professor de língua estrangeira.
A partir dessa nova abordagem, deixa-se de dar importância à forma, para se pensar na função da língua. Não mais se espera que o indivíduo adquira uma língua estrangeira (LE) ou segunda língua (L2) por meio da memorização de regras gramaticais; ao contrário, a gramática é vista como algo secundário, então, busca-se o resultado pela exposição e uso real da língua, pelo ato de se comunicar. Ademais, a abordagem comunicativa mantém o foco no aluno; assim, o professor deixa de ser encarado como o protagonista no processo de ensino-aprendizagem e passa a desempenhar o papel de orientador, facilitador, co-participante nesse contexto.
Com a aprendizagem centrada no aluno, a este é dada a oportunidade de expressar suas idéias, emoções e opiniões. Ao mesmo tempo, conforme sugere Paiva (2006), com o professor deixando de desempenhar o papel de controlador da aprendizagem, é reconhecida e ensejada a capacidade do comportamento autônomo do aprendiz no processo de aquisição da língua-alvo. Assim sendo, é possível inferir daí que, nesse processo, não somente aspectos cognitivos, mas também fatores afetivos se fazem presentes.
Posto isso, partindo do pressuposto de que a aquisição de língua estrangeira pode ser influenciada pelo aspecto da afetividade e considerando a autonomia um outro fator que tem poder de interferência nesse processo, o presente trabalho se apresenta com o intuito de detectar, a partir de uma análise qualitativa, sinais de variáveis afetivas e de comportamento autônomo em narrativas de aprendizagem da Língua Inglesa.
Narrativas de Aprendizagem
Para Cunha (1997), o processo de investigação
qualitativa, que se serve de narrativas enquanto instrumental educativo, pode
alcançar importantes resultados tanto no âmbito da pesquisa, como no campo do
ensino. A autora sugere que na narrativa não existem somente as idéias do
indivíduo para o relato, seja este escrito ou oral, mas, nesse instrumento,
também está presente uma auto-análise, que permite ao sujeito construir novas
bases para reflexão sobre sua própria prática.
Mantendo o foco na aquisição de LE/L2, percebe-se a importância das narrativas como recurso de investigação daquele processo na medida em que, como observa Paiva (2006a), elas favorecem a compreensão de significados em contextos de aprendizagem sob o ângulo de visão dos próprios aprendizes, uma vez que são eles os relatores de como aprendem ou aprenderam a língua em questão.
Nesse sentido, a análise qualitativa deste trabalho se baseia em narrativas de aprendizagem da língua inglesa escritas, no ano de 2004, por graduandos e graduados do Curso de Letras com Inglês da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). As narrativas, utilizadas nessa análise, integram o corpus que está sendo construído pelo projeto Aprendendo com Memórias de Falantes e Aprendizes de Línguas Estrangeiras (AMFALE)[3], coordenado pela Profa. Dra. Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (UFMG).
Faz-se mister salientar que, ao longo da análise deste trabalho, os conceitos de língua estrangeira (LE) e segunda língua (L2) recebem o mesmo tratamento e os termos aprendizagem (learning) e aquisição (acquisition) não sofrem distinção. A análise é conduzida sob o enfoque da abordagem comunicativa; embora admitindo o entendimento de que nenhum modelo teórico, por si só, seja capaz de explicar todos os padrões que a aprendizagem de uma língua está sujeita. A preferência àquela abordagem se justifica por acreditar que o ensino de língua estrangeira deve estar centrado no aluno e deve manter sua ênfase na comunicação.
O Aspecto da Afetividade
Por desenvolver idéias compatíveis aos princípios da abordagem comunicativa, inúmeros estudos do processo de aquisição de LE/L2 têm se baseado nos trabalhos do teórico Stephen Krashen. De acordo com Trentin (2001), o autor formula a teoria sobre aquisição de segunda língua a partir do levantamento de cinco hipóteses:
Apesar de a base empírica de Krashen receber críticas – a exemplo de Paiva (1994), que considera que o autor não leva em conta a importância da produção, output compreensível, e, a exemplo de Bezerra (2003) que salienta que o contexto social e sua influência não são considerados no processo de aquisição da língua – é visível a importância desse modelo teórico ao considerar, por exemplo, que variáveis afetivas podem influenciar positiva ou negativamente a aquisição de língua estrangeira.
Reportando-se a Terrell (1991), o modelo teórico de Krashen estabelece que a língua é adquirida quando os aprendizes processam o input num baixo contexto de ansiedade. Seguindo essa linha de raciocínio, as condições causativas para a aquisição de uma língua são: primeiramente, a centralização do foco não na forma (gramática), mas na função da língua (produção de significados) e, segundo, a inexistência de variáveis afetivas bloqueadoras nesse processo.
Autonomia e o Processo de Aquisição de LE/L2
Considerando
a autonomia como um dos fatores que também interferem no processo de aquisição
de LE/L2, percebe-se que a literatura traz diferentes conceitos para o termo.
Benson (2001 apud BRAGA, 2004, p. 47-9) observa que a autonomia passa a ser
conceituada na área de aprendizagem de línguas, em
De acordo com Braga (2004, p. 48-49), o termo autonomia esteve associado ao conceito de individualização e dessa associação, presente nas décadas de 70 e 80, originaram-se críticas, uma vez que o entendimento de autonomia se vinculou à idéia de trabalho isolado; posicionamento este, revisto nos últimos anos, já que o termo passou a incorporar no seu conceito aspectos como colaboração e interdependência.
Na visão de Holec (1981 apud BRAGA 2004, p. 50), autonomia é entendida como a capacidade do aprendiz em controlar a sua própria aprendizagem, o que implica decisões tomadas nas importantes etapas desse processo, desde o estabelecimento de objetivos, passando pela definição do conteúdo, métodos, técnicas, até passar pelo monitoramento (ritmo, tempo, lugar) e, finalmente, pela avaliação do que se aprendeu. Parece que Little (1991 apud PAIVA, 2006, p. 82) compartilha dessa idéia quando considera que “a autonomia é a capacidade de planejar, monitorar e avaliar as atividades de aprendizagem, e, necessariamente abrange tanto o conteúdo quanto o processo de aprendizagem”. Dickinson propõe que “um aprendiz autônomo é aquele que é totalmente responsável para tomar decisões que dizem respeito à sua aprendizagem e para implementá-las”. (1987 apud PAIVA, 2006, p. 82)
Para Paiva (2006, p.82), tais definições não são totalmente satisfatórias, mas a autora entende que os dois últimos conceitos poderiam se encaixar num grau máximo de autonomia, no qual o indivíduo estaria apto a decidir sobre o que aprender, como e quando, independentemente do contexto educacional formal.
Benson (2001 apud BRAGA 2004, p. 53-55) observa que, apesar das várias definições comumente empregadas, o conceito de autonomia deve abranger o sentido político, uma vez que não se deve excluir do ensino-aprendizagem de línguas o conteúdo político que elas carregam, a exemplo de atividades nas quais um grupo de aprendizes pode discutir o porquê de se estudar determinada língua e avaliar tais razões convencionais do ponto de vista de suas experiências e objetivos.
Segundo Littlewood, desejo e habilidade são dois componentes essenciais num comportamento autônomo, o primeiro composto por motivação e confiança e o segundo, resultado de conhecimento e habilidades. (1996 apud PAIVA, 2006, p. 84)
Dickinson (1987 apud PAIVA 2006, p.81) considera que os diferentes graus de autonomia podem ser afetados por fatores internos ou externos, tais como: decisão de aprender; método de aprendizagem; ritmo; quando/onde; materiais; monitoramento; avaliação interna e externa. Paiva (2006, p. 81) acrescenta que outros fatores também podem repercutir de modo favorável ou negativamente ao fenômeno: características do aprendiz, professores, tecnologia, legislação educacional e aspectos culturais, econômicos e políticos.
Littlewood (1996 apud PAIVA 2006, p.84) argumenta que um indivíduo pode apresentar três tipos de autonomia: 1) o de comunicador, ao empregar apropriadamente estratégias comunicativas no uso da língua; 2) o de aprendiz, ao lançar mão de estratégias de aprendizagem num aprendizado independente; 3) o de pessoa, ao promover significados e situações próprios de aprendizagem. Paiva (2006, p. 84) acrescenta a esta classificação de autonomia o tipo de usuário de tecnologia, especialmente da Internet.
O fenômeno da autonomia recebe de Paiva (2006) a seguinte definição:
[...] um sistema
sócio-cognitivo complexo, que se manifesta em diferentes graus de independência
e controle sobre o processo de aprendizagem, envolvendo capacidades,
habilidades, atitudes, desejos, tomadas de decisão, escolhas e avaliação, tanto
como aprendiz de língua ou como seu usuário, dentro ou fora da sala de aula. (p. 88-9)
Sinais de
Variáveis Afetivas em Narrativas de Aprendizagem
Partindo do embasamento teórico apresentado e, nesse
primeiro momento, relacionando a aquisição de língua estrangeira com o fenômeno
da afetividade – presente na idéia do filtro afetivo de Krashen – nota-se que
aspectos afetivos positivos e negativos podem ser abstraídos dos registros de
memória que constituem o corpus de
análise deste trabalho. Fragmentos como os apontados abaixo, extraídos das
narrativas (
(N1): “O meu interesse
pela língua inglesa surgiu ainda na infância. Sempre gostei de ouvir músicas e
assistir a filmes em inglês; adorava o som das palavras e o modo como as
pessoas falavam esse idioma. Só fui começar ter aulas de inglês na 5ª série.
Naquela época pude ter a confirmação de que de fato o inglês me atraía. Da 5ª
ao 3º ano nunca tive dificuldades, ao contrário, sempre me saía bem nas
avaliações e estudava tudo o que o professor passava com muito prazer. [...]”
(N2): “Meu primeiro
contato com a língua inglesa foi na 5ª série e costumo dizer que foi amor à
primeira vista. Em uma das aulas a professora levou a música Imagine, dos
Beatles e eu fiquei muito curiosa para saber o que estava escrito ali. [...] O
meu processo de aprendizagem foi sempre regido por muita motivação e prazer e
penso que são fatores importantíssimos para a aquisição de um idioma. [...]”
(N3): “O meu interesse
pela Língua Inglesa deu-se por volta dos meus 14 anos. Eu morava em uma
cidadezinha interiorana e fazia a 7ª série ginasial. O Inglês oferecido pela
escola era muito básico e eu queria muito poder traduzir e entender as canções
que eu ouvia. [...]”
(N4): “[...] Meu
primeiro contato com a língua inglesa aconteceu quando comecei a estudar no
ensino fundamental, antigo primeiro grau, numa escolinha pública. Não imaginava
que poderia amar tanto este idioma. Fui orientado nos primeiros passos por meus
professores de 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries em todos os assuntos básicos do inglês e
eu gostei muitíssimo, porque queria falar em outra língua. [...]”
(N5): “Fui apresentada
à língua inglesa na 5ª série do Ensino Fundamental, mas não chegava a ser uma
aula de inglês, parecia apenas mais uma disciplina qualquer. O que não posso
dizer é que foi totalmente inútil, pois, em casa, ao fazer as atividades é que
notava que podia tirar proveito daquela nova língua. Lembro-me de estar
cursando a 8ª série, quando a professora de inglês pediu para cantarmos uma
música em coral e outra só, este último seria voluntariamente. Sem hesitar,
aceitei as duas propostas. [...]”
(N6): “Quando eu tinha
11 anos de idade, uma escola de inglês foi aberta em minha cidade. [...] Ela
[minha mãe] me matriculou sem me comunicar, mas eu não achei ruim, pois era
vidrada no grupo musical sueco Roxette e achei que poderia melhorar minha
pronúncia ao cantar as músicas com a minha melhor amiga. Comecei a amar a
língua durante o curso, pois a minha professora era excelente e me estimulava
bastante [ao] passar nas aulas as músicas da ‘minha banda’, ao me emprestar
livros e [ao] me ouvir com toda a atenção do mundo”.
(N7): “Foi em 1990, no
Colégio [menciona o nome] de Vitória da Conquista, que tive minha professora de
Inglês. [...] Ela, com delicadeza, logo no primeiro dia de aula, entrou na sala
e começou a falar da importância de adquirir uma língua estrangeira. Logo após,
deu exemplos de como o idioma, ou seja, a Língua Inglesa se encontrava inserida
no português do Brasil e incentivos a adquirir livros e revistas com palavras
escritas
Como se pode notar, características afetivas positivas como motivação e alta autoconfiança são visíveis nos relatos dos aprendizes. Na perspectiva de Krashen, tais estudantes apresentam sinais de um baixo filtro afetivo, situação psicológica favorável à assimilação do input compreensível. Quanto mais motivado a aprender, autoconfiante, maior a evolução no processo de aquisição da LE.
Os extratos, a seguir, remetem a sinais de variáveis afetivas negativas por parte dos aprendizes:
(N8): “[...] O inglês
me aterrorizava desde criança e estudante, quando entrei na escola, eu não tive
bons professores. Todos estes não me incentivaram a falar o inglês. [...]”
(N9): “Meu primeiro
contato com a Língua Inglesa não foi muito agradável, de modo que nunca passou
pela minha cabeça que um dia teria tanta afinidade com ela a ponto de me
aprofundar em seu estudo. Ao me ingressar no ginásio, nos primeiros dias de
aula, num círculo comum de amigos, comentavam-se as aulas da então professora
de Inglês. Os que já a conheciam falavam dela de tal forma que amedrontava a
todos nós, os novatos. [...]”
(N10) “[...] No
ginásio, mais precisamente na 5ª série, tive o meu primeiro contato formal com
a língua; diga-se de passagem, foi um tanto frustrante, em razão da falta de
‘habilidade’, digamos, da professora responsável pela matéria. [...]”
Nos depoimentos das narrativas 8, 9 e 10, percebem-se exemplos de medo, alta ansiedade e desmotivação no processo de aquisição da Língua Inglesa. Conforme postulado por Krashen, trata-se de sinais de um alto filtro afetivo. Nessas condições, tais variáveis afetivas atuam como barreiras que bloqueiam o input compreensível e prejudicam o progresso do aprendiz na aquisição da língua.
Como o filtro afetivo se correlaciona com a situação psicológica que o indivíduo apresenta em relação à língua que está sendo adquirida, o filtro poderá ser baixo ou alto a depender da característica afetiva do aprendiz. Considerando que as variáveis afetivas do indivíduo são passíveis de alterações, isso remete ao entendimento de que uma variável positiva pode ser alterada para uma negativa e vice-versa, o que modifica, conseqüentemente, o nível do filtro afetivo, que pode descer ou subir, ou o inverso. É o que se verifica a seguir:
Diminuição do “Filtro Afetivo” |
Elevação do “Filtro Afetivo” |
(N9):
“[...] Ao me ingressar no ginásio, nos primeiros dias de aula, num círculo
comum de amigos, comentavam-se as aulas da então professora de Inglês. Os que
já a conheciam falavam dela de tal forma que amedrontava a todos nós, os
novatos. De fato, foram necessários poucos minutos de aula para constatar que
ela era rigorosa, severa, brava. Dessa forma, principalmente nos primeiros
meses eu temia os dias nos quais teríamos aula de Inglês. Contudo, na medida em que o tempo ia passando, eu
começava a entender a professora, a perceber que, apesar de severa, ela era
justa, explicava bem... Eu entendia suas aulas. Talvez pelo fato de entender
tão bem eu me destacava entre os outros alunos, recebendo elogios da
professora, e, conseqüentemente, dos colegas, o que me despertava ainda mais
a motivação para estudar, participar das aulas... Ao contrário de antes, passei
a esperar ansiosamente pelas aulas de Inglês. O interesse e a certa
facilidade foram se repetindo ao longo das séries e passei a buscar outras
formas de aprendizagem, não somente às relacionadas à escola. [...]” (N10): “[...] Quando comecei a
tocar violão, aos doze anos, tive oportunidade de praticar um pouco a
pronúncia de letras de bandas que faziam sucesso à época. No ginásio, mais
precisamente na 5ª série, tive o meu primeiro contato formal com a língua;
diga-se de passagem, foi um tanto frustrante, em razão da falta de
‘habilidade’, digamos da professora responsável pela matéria. Nas séries subseqüentes do ginásio, com a troca da
regente, senti-me um pouco mais motivado. Lembro-me de ter sido elogiado,
durante as aulas, por ser detentor de uma boa pronúncia. Tudo isso, claro,
motivado pelos constantes ensaios musicais. [...] Antes do Vestibular, porém,
tive a grata satisfação de ter como professora, na 1ª série do segundo grau,
a Sra. [o nome da professora é mencionado]. Dotada de um senso de observação
apurado, profundo conhecimento e capaz de fazer uso de uma metodologia
atraente, senti-me contemplado em meus ‘anseios lingüísticos’. Acredito ter
sido esse um período de grandes descobertas quanto às minhas potencialidades.
[....]” (N11):
“Comecei a ter contato com a Língua Inglesa na 5ª série, mas a cada ano que
passava sempre aprendíamos o verbo To Be, assim se deu até a 8ª série. No Ensino Médio houve um avanço, pois aprendíamos
Inglês de uma forma divertida, fazíamos dinâmicas em grupo e líamos textos
interessantíssimos, com assuntos atuais como a coca-cola, a Aids e as
estrelas, tudo isso nos motivava. [...]” (N12): “A língua inglesa entrou na
minha vida de forma abrupta e de certa forma indesejada. Aos oito anos de
idade minha mãe, sem me consultar, matriculou-me em um curso de inglês [...].
Com o passar do tempo esse pensamento mudou
e, comecei a gostar, na medida que meu conhecimento aumentava, da sensação de
saber algo mais do que as minhas amigas de infância. Elas me perguntavam
sobre as músicas e os filmes estrangeiros, qual o significado das palavras e
eu, que sempre fui tímida sentia-me útil e orgulhosa de mim mesma.
[...]” |
(N7): “[...] O ano se passou e
houve, por minha parte, um aprendizado e um certo interesse pela língua, graças ao incentivo da professora.
Ao continuar a ser professora da 6ª série no outro ano, o meu interesse pela
língua estrangeira em questão aumentou e cheguei a tirar a nota máxima na
matéria em quase todas as unidades. Mas
houve uma quebra desse interesse na 7ª e 8ª séries quando a professora saiu
do colégio onde eu estudava e foi substituída por outra. Essa outra
professora era rígida e cobrava assuntos os quais ela não passava para os
alunos. Com alguma dificuldade eu passei para o Nível Médio, onde tive um professor
de inglês sem nenhuma didática para o ensino da língua inglesa. Passava os
mesmos assuntos que eu já tinha estudado anteriormente: o verbo [to] be,
presente, passado, futuro e nada de novo para enriquecer o meu vocabulário.
Essa pessoa foi o meu professor pelos três anos. [...]” (N13): “O meu primeiro contato com
a língua inglesa foi na 6ª Série, quando estudamos com o livro da 5ª Série
[...]. A princípio amei a matéria. A professora era muito legal e até
terminar a 8ª Série amava Inglês. No período
do Ensino Médio, porém, a história mudou, passei a rejeitar o inglês e era
aprovada com notas muito próximas da média. Era terrível! [...]” |
Na primeira coluna do quadro acima, percebe-se que variáveis como o medo, a alta ansiedade, a frustração e a desmotivação se revertem em alta auto-estima, autoconfiança, motivação e atitudes favoráveis ao professor, à metodologia de ensino e aos materiais utilizados; enquanto que na segunda coluna, têm-se exemplos de aprendizes motivados que perdem o interesse em aprender a Língua Inglesa e que passam a assumir atitudes desfavoráveis ao professor, ao conteúdo trabalhado e à metodologia empregada. Com base nas narrativas supracitadas, é interessante observar que, na maioria das alternâncias do filtro, a motivação e a atitude prevalecem como as características afetivas mais freqüentes no processo de aquisição da Língua Inglesa.
Para Cittolin (2003), a motivação pode se originar do próprio ato de aprender, das próprias situações de aprendizagem, que seriam incentivos por si só; pode ter sua fonte no próprio aprendiz, que já carrega consigo estímulo para aprender; bem como pode surgir de influências e incentivos externos. A atitude diz respeito a um estado mental que surge como uma resposta favorável ou desfavorável aos objetos e situações deparados pelo aprendiz: atitudes quanto à aprendizagem de uma LE em específico; à aprendizagem de línguas estrangeiras em geral; aos falantes da língua; ao professor; ao material didático, à metodologia de ensino empregada. (Citollin, 2003).
Nos exemplos apontados, nota-se que os aspectos afetivos da motivação e
atitude mantêm estreita conexão com os elementos, a saber: professor,
metodologia, conteúdo e materiais empregados no ensino da língua estrangeira. Essa idéia é sustentada por
Gardner (1990 apud CITOLLIN, 2003) quando considera que o desejo do aprendiz
para aprender e continuar aprendendo a língua-alvo pode ser favorecido ou
desfavorecido, por exemplo, pela ação do professor.
A análise das narrativas, em geral, permite considerar que, num ambiente
de sala de aula, a atenção do professor de LE precisa estar continuamente
voltada para a redução de variáveis afetivas negativas que possam prejudicar o
progresso do indivíduo na aquisição da Língua Estrangeira. É preciso então que
se criem condições para que os alunos estejam tranqüilos e sem ansiedade; ao
mesmo tempo, estejam motivados, confiantes e interessados em aprender a
língua-alvo.
Sinais de Autonomia em
Narrativas de Aprendizagem
Nessa segunda etapa de estudo, relacionando, agora, o fenômeno da
autonomia com o processo de aquisição de LE, algumas considerações também podem
ser tecidas a partir das memórias de aprendizagem da Língua Inglesa utilizadas
como o corpus deste trabalho.
Inicialmente, entre as narrativas que apontam para alguns indícios de autonomia na aprendizagem da língua-alvo, pode-se notar que tais indícios estão visivelmente relacionados, em sua grande essência, com comportamentos autônomos dos aprendizes desenvolvidos fora do ambiente da sala de aula. Além disso, os sinais de autonomia perceptíveis variam de aprendiz para aprendiz. A maioria deles apresenta um grau menor de independência e controle sobre o processo de aprendizagem, como se percebe nos exemplos que se seguirão:
(N14): “O primeiro
contato que tive com a Língua Inglesa foi na 5ª série do Ensino Fundamental.
Gostava muito das aulas. Quando entrei no Ensino Médio, numa escola pública,
não tinha a disciplina na grade curricular. Fiquei muito decepcionada, pois
queria aprender mais. Somente na metade do 3º ano foi que chegou um professor
para ensinar a tal disciplina. Quando resolvi fazer vestibular para ingressar
no curso de Letras, decidi que só o faria se pudesse cursar as duas
licenciaturas (Português e Inglês) ao mesmo tempo. Assim, pegava uma gramática
e ficava estudando as regras da língua e traduzindo textos pequenos e de níveis
básicos. Adquiri muito vocabulário, no entanto, não sabia a pronúncia de 99%
das palavras que lia. [...]”
(N5): “Fui apresentada
à língua inglesa na 5ª série do Ensino Fundamental, mas não chegava a ser uma
aula de inglês, parecia apenas mais uma disciplina qualquer. [...] Lembro-me de
estar cursando a 8ª série, quando a professora de inglês pediu para cantarmos
uma música em coral e outra só, este último seria voluntariamente. Sem hesitar,
aceitei as duas propostas. Naquela hora já estava gostando muito do inglês, não
sabia uma ‘vírgula’, mas a ousadia era maior. Lá estava eu, todo tempo livre em
casa com uma fita k7, dedos nos botões play, pause, rewind do pobre aparelho de
som na tentativa desesperada de copiar a pronúncia das palavras que via nas
letras das músicas ‘We are the world’ e ‘Hello’. [...]”
(N9): “[...] Ao me
ingressar no ginásio, nos primeiros dias de aula, num círculo comum de amigos,
comentavam-se as aulas da então professora de Inglês. Os que já a conheciam
falavam dela de tal forma que amedrontava a todos nós, os novatos. [...]
Contudo, na medida em que o tempo ia passando, eu começava a entender a
professora, a perceber que, apesar de severa, ela era justa, explicava bem...
[...] O interesse e a certa facilidade foram se repetindo ao longo das séries e
passei a buscar outras formas de aprendizagem, não somente às relacionadas à
escola: gibis em inglês, músicas, livros de outras séries, etc. Lembro-me que
um dos meus irmãos estudava em uma escola de línguas, mas eu que respondia a
maioria dos seus exercícios, explorava os CD´s que acompanhavam esses livros,
aprendendo cada vez mais. [...]”
Na narrativa 14, é possível abstrair do relato da
aprendiz que, por insatisfação do seu
domínio lingüístico da LE, diante do objetivo estabelecido de se habilitar
Na narrativa 5 – apesar da situação inicial desfavorável à aprendizagem da língua, “não chegava a ser aula de inglês”, provavelmente por se tratar de um ensino conduzido com o foco na forma e não no input compreensível –, a narrativa da aprendiz revela sinais da construção de um comportamento autônomo determinado pela autoconfiança e motivação da estudante em aprender a Língua Inglesa. Em determinado momento do processo de aprendizagem, a aprendiz assume não dispor de domínio lingüístico, mas, motivada, passa a traçar um plano para a melhora da pronúncia dos vocabulários, utilizando a música como elemento autêntico da LE.
Da mesma forma que no exemplo da N5, é possível observar que, apesar da aprendizagem ser inicialmente desfavorecida, a narrativa 9 também dá sinal de um certo comportamento autônomo resultante de uma característica afetiva do próprio estudante; nesse caso, a assunção de uma atitude positiva em relação à professora, momento a partir do qual cresce o interesse e o entusiasmo pela língua estrangeira, o que leva o aprendiz a planejar meios que favorecessem à sua aprendizagem, a recorrer a elementos autênticos da língua-alvo, a exemplos de “gibis em inglês, músicas”, bem como a fazer uso de materiais didáticos como “livros de outras séries”, além de livro e CDs de uma escola de idioma na qual estudava o irmão.
No fragmento que se segue, ao contrário do exemplo anterior, a autonomia do aprendiz cresce da assunção de uma atitude negativa que o aprendiz passa a manifestar em relação aos professores da LE (sucessores da primeira professora) e ao conteúdo por eles trabalhado (repetitivo e sem input compreensível):
(N7): “Foi em 1990, no
Colégio [menciona o nome] de Vitória da Conquista, que tive minha primeira
professora de Inglês. Não me recordo o nome dela [...], logo no primeiro dia de
aula entrou na sala e começou a falar da importância de adquirir uma língua
estrangeira. [...] Ao continuar a ser professora da 6ª série no outro ano, o
meu interesse pela língua estrangeira em questão aumentou e cheguei a tirar a
nota máxima nas matérias em quase todas as unidades. Mas houve uma quebra desse
interesse na 7ª e 8ª séries quando a professora saiu do colégio onde eu
estudava e, foi substituída por outra. Essa outra professora era rígida e
cobrava assuntos os quais ela não passava para os alunos. Com alguma dificuldade
eu passei para o nível médio, onde tive um professor de inglês sem nenhuma
didática para o ensino da língua inglesa. Passava os mesmos assuntos que eu já
tinha estudado anteriormente: o verbo [to] be, presente, passado e futuro e
nada de novo para enriquecer o meu vocabulário. Essa pessoa foi o meu professor
pelos três anos e foi nesses anos que comecei a estudar a língua inglesa
sozinho. Sem ajuda nenhuma, comecei saber um pouco de gramática, mas nada de
pronúncia. A melhora com a língua só veio a se tornar concreto quando meu irmão
ganhou uma bolsa de estudos de um curso de idiomas aqui da cidade e como não se
interessava pela língua inglesa, passou-a para mim. [...] fazia o maior esforço
para tirar boas notas no curso de idiomas, mas senti que poderia ir além e,
mesmo com vocabulário mínimo, não ficava só pegando assuntos na sala de aula.
Fazia de tudo para falar a língua que estava estudando. Primeiro com as
palavras básicas: Hi!, ou How are you? Ou Good afternoon. Depois eu fui
melhorando meu vocabulário na língua e comecei a formar parágrafos e pequenos
textos. Eu queria aprender mais...[...]”
Verifica-se acima que a partir da atitude assumida, o aprendiz busca por certo controle sobre sua aprendizagem, na medida em que começa a estudar sozinho a gramática da LE, o que não lhe mostra suficiente. Então, passa a estudar em um curso de idioma (cuja bolsa de estudos foi cedida pelo irmão que não tinha interesse pela língua estrangeira) e começa a alcançar input compreensível. Percebe-se, também, que o aprendiz manifesta certo comportamento autônomo na criação de situações propícias ao output compreensível da língua-alvo.
Como poderá ser percebido abaixo, N2 e N3 também são exemplos de comportamentos autônomos motivados por alguma característica afetiva das aprendizes em relação à LE. Em tais fragmentos, as aprendizes denotam o desejo em aprender a língua-alvo, mas vêem suas necessidades não satisfeitas pela professora (N2) ou pelo curso (N3):
(N2): “Meu primeiro
contato com a língua inglesa foi na 5ª série e costumo dizer que foi amor à
primeira vista. Em uma das aulas a professora levou a música Imagine, dos
Beatles e eu fiquei muito curiosa para saber o que estava escrito ali. A
professora comentou brevemente o conteúdo da música, mas não me satisfez. Eu
queria saber o significado de cada uma daquelas palavras, ao chegar em casa
peguei um dicionário inglês-português e fui fazer a tradução. A partir daí,
todas as músicas que escutava em inglês eu gravava, traduzia a letra e ficava
ouvindo até aprender. Tornou-se um
hobbie e eu passei a andar sempre com um
dicionário. Nas horas vagas, ficava descobrindo palavras novas e fazia listas
imensas de vocabulário. [...]”
(N3): “O meu interesse
pela Língua Inglesa deu-se por volta dos meus 14 anos. Eu morava em uma
cidadezinha interiorana e fazia a 7ª série ginasial. O Inglês oferecido pela
escola era muito básico e eu queria muito poder traduzir e entender as canções
que eu ouvia. Eu morava com minha família em uma fazenda e não tínhamos acesso
a tecnologias como a TV, pois não havia luz elétrica no local. As canções eram
ouvidas por um rádio, movido a bateria. Era, portanto, uma felicidade para mim
quando, no período das férias escolares, podia vir a Vitória da Conquista –
cidade mais próxima – para ficar na casa de uma grande amiga. Assim, eu tinha
acesso a coisas que apenas imaginava ter em casa, como assistir a filmes e
ouvir quantas músicas quisesse, sem me preocupar com o tempo de duração das
pilhas. E foi numa dessas férias que ganhei dos meus pais uma coleção de livros
de Inglês que, juntamente com fitas K-7, constituía-se
Na narrativa 2, percebe-se que a aprendiz assume, desde cedo, algum controle da sua aprendizagem, ao recorrer ao dicionário para obtenção de input compreensível. Na narrativa 3, infere-se que a autonomia da aprendiz, dada a sua situação econômica, começa a se constituir, essencialmente, a partir do momento em que ela tem acesso a uma coleção de livros com fitas cassetes, recebidas de presente pelos pais. A aprendiz percebe o bom resultado de seu comportamento autônomo em relação à aprendizagem da língua-alvo, mas também reconhece a ausência do que seria a importante troca de sua experiência com professores e com colegas.
Os dois próximos depoimentos apresentam algum diferencial em relação aos demais registros de memória que merece ser destacado nessa análise:
(N10): “O meu
interesse pela língua inglesa começou sem que eu me desse conta do fato. Ainda
criança, gostava de acompanhar, à minha maneira, as músicas executadas nesse
idioma, no equipamento de som que tínhamos
(N15): “[...] Meu
primeiro contato com a língua inglesa aconteceu quando comecei a estudar no
ensino fundamental, antigo primeiro grau, numa escolinha pública. Não imaginava
que poderia amar tanto este idioma. Fui orientado nos primeiros passos por meus
professores de 5ª, 6ª. 7ª e 8ª séries em todos os assuntos básicos do inglês e
eu gostei muitíssimo, porque queria falar uma outra língua. Eu e meus colegas
não tínhamos livros, todos os assuntos eram anotados em nossos cadernos, mas eu
tinha um grande interesse em aprender, então eu era um inquiridor. Eu queria
saber o significado e a pronúncia das palavras deste modo eu procurava livros
usados, apagava os exercícios respondidos e os respondia novamente. Consultava
dicionários e examinava não somente o significado das palavras mas também sua
pronúncia. Também adquiri cursos com fitas
K7, CDs e assisti algumas aulas na TV. Passei pelo Ensino Médio, antigo
2º grau e lá continuei este processo. Freqüentei alguns cursos como o CCAA por
algum tempo. Entrei para faculdade e lá
continuei a estudar inglês. [...] Não posso desconsiderar também que tenho
trabalhado o aprendizado (de) inglês através do auto-estudo. Tenho estudado
sozinho e como minhas ferramentas de estudo tenho usado a Internet, livros,
dicionários e outros meios. Através do dicionário tenho estudado e aprendido morfologia,
gramática e fonética, sem falar que tenho usado livros de gramática
Na narrativa 10, o diferencial está no exemplo do aprendiz que teve autonomia para recorrer a um curso de idiomas. Está clara a tomada de decisão consciente em prol da própria aprendizagem da sua LE. No relato da narrativa 15, aos recursos empregados pelo comportamento autônomo do aprendiz – comuns à maioria dos registros aqui analisados (consultar dicionários, utilizar livros didáticos, músicas, fitas cassetes e CDs) – está acrescido o uso da Bíblia e da Internet, como outros recursos autênticos da língua-alvo.
Para finalizar as sinalizações de comportamentos autônomos presentes no corpus deste estudo, a narrativa, a seguir, destaca-se por trazer o exemplo de um aprendiz com um maior grau de independência e controle sobre o seu processo de aprendizagem da Língua Estrangeira:
(N16): “Estudei Inglês
por um ano. Neste período, lia com bastante regularidade todo material que
possuía: uma gramática, livros didáticos, revistas, letras de música, etc.
Nessa época, utilizava um pequeno dicionário inglês /português português/inglês
em minhas leituras que visavam a ampliação do vocabulário e a consolidação da
gramática. Também escutava intensamente o inglês através de fitas cassetes,
músicas, filmes e principalmente por meio de um rádio de ondas curtas com o
qual acompanhava os programas da Voz da América. Atribuo a esta intensa prática
auditiva a familiarização com o idioma. Treinava a fala ensaiando diálogos bem
informais com um amigo que fazia um curso de inglês e, depois, conversando com
professores de cursos de idiomas e finalmente com missionários americanos.
Sempre aproveitava bem as raras oportunidades de falar com um nativo. Em
relação à habilidade da escrita, escrevia composições sobre temas diversas e
cartas a um pen pal. Meu aprendizado do grego moderno foi mais difícil visto
que não possuía gramática nem dicionário. Estudei grego também por um ano e
simultaneamente ao inglês. Utilizava edições de uma revista religiosa em grego
e
Vê-se, ao analisar a narrativa 16, que esta compartilha com a reflexão que Paiva (2006, p. 82) faz das definições de autonomia propostas por Little (1991) e Dickson (1987) que, para a autora, aplicar-se-iam ao mais alto grau de autonomia: “um aprendiz capaz de escolher o que quer aprender, como e quando, sem as restrições de um contexto educacional formal”.
Ademais, o registro faz ponte com as idéias de Little (1991 apud PAIVA, 2006, p. 82) na medida em que o aprendiz manifesta sua capacidade em:
Além disso, o aprendiz dessa narrativa parece apresentar os três tipos de autonomia classificados por Littlewood (1996 apud PAIVA, 2006, p. 84-85):
A análise do comportamento autônomo nesse registro de memória permite traçar, ainda, outras considerações:
Desse modo, e ainda com foco no fenômeno da autonomia, constata-se, a partir dos registros de memória analisados ao longo deste trabalho, que:
Nesse sentido, é possível tecer as seguintes reflexões:
Considerações
Finais
A presença e a ausência de motivação, assim como a manifestação de atitudes favoráveis e desfavoráveis dos aprendizes representam os aspectos da afetividade inferidos com maior freqüência nos registros de memória analisados nesse trabalho. Tais aspectos, por sua vez, mantêm uma forte ligação com os seguintes elementos: professor, metodologia, conteúdo e materiais empregados no ensino de Inglês como língua estrangeira.
No que diz respeito ao fenômeno da autonomia, abstrai-se das narrativas analisadas que este se manifesta, essencialmente, fora do ambiente da sala de aula; num menor grau de independência e controle sobre o processo de aprendizagem; influenciado por fatores internos como desejo de aprender, características afetivas do aprendiz (autoconfiança, motivação, atitudes positiva ou negativa em relação à figura do professor ou ao curso) e fatores externos como condição sócio-econômica.
Este estudo – ao relacionar os dados apontados acima com o contexto de educação formal – sugere que, se o que se espera é que os aprendizes adquiram a língua-alvo, não se pode passar despercebido pelo professor o papel decisivo que também ele tem a desempenhar nesse processo. Assim sendo, é preciso que o professor coloque em prática ações pedagógicas centradas no aluno; volte sua atenção de modo contínuo para as variáveis afetivas dos aprendizes; considere as diferenças individuais; e favoreça a construção de um comportamento cada vez mais autônomo por parte dos aprendizes no processo de aquisição da língua estrangeira.
Referência
Bibliográfica
BEZERRA, I. C. R. M.
Aquisição de Segunda Língua de uma Perspectiva Lingüística a uma Perspectiva
Social. In: SILVA, José Pereira da.
(Ed.). Revista SOLETRAS. Rio
de Janeiro: 2003. Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/5e6/indice.htm. Acesso em: 28
de março de 2006.
BRAGA, J. de C. F. Aprendizagem de línguas em regime de tandem via e-mail:
colaboração, autonomia e estratégias sociais e de compensação. Belo
Horizonte: 2004. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000360.pdf
Acesso em 31 de março de 2006.
CITOLLIN, S. F. A afetividade e a aquisição
de uma segunda língua: a teoria de Krashen e a hipótese do filtro afetivo. Revista de Letras 6 DACEX: CEFET-PR.
Paraná: 2003. Disponível em: http://www.cefetpr.br/deptos/dacex/suma6.htm.
Acesso em 09 de abril de 2006.
CUNHA, Maria Isabel da. Conta-me Agora!: as narrativas como alternativas pedagógicas na
pesquisa e no ensino. Rev. Fac. Educ. [online]. Jan./Dez. 1997,
vol.23, no.1-2 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-25551997000100010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt.
ISSN 0102-2555. Acesso em 30 de abril de 2006.
PAIVA, V. L. M. de O. e. Input Organization. In: LEFFA, Vilson
(ed.). Autonomy in Language Learning.
Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1994. p.
311-322.
__________________Autonomia
__________________ Autonomia e
Complexidade. Linguagem e Ensino. v. 9, n. 1, p. 77-127. 2006. Disponível em: http://rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v9n1/vera_paiva.pdf
. Acesso em: 03 de abril de 2006.
_________________ As Habilidades Orais nas Narrativas de Aprendizagem de Inglês. 2006a. Disponível em http://www.veramenezes.com/narorais.doc.
Acesso em 30 de abril de 2006.
TERREL, T.
D. The Role of Grammar Instruction in a
Communicative Approach. Modern Language
Journal. v. 75, n. 1 (Spring 1991), pp-52-63. Disponível em: http://links.jstor.org/sici?sici=0026-7902(199121)75%3A1%3C52%3ATROGII%3E2.0.CO%3B2-2. Acesso em: 29 de março de 2006.
TRENTIN, C. I. O Ensino Comunicativo de Línguas Estrangeiras e a Abordagem Natural. Revista de Letras DACEX: CEFET-PR. Paraná: 2001. Disponível em:http://www.cefetpr.br/deptos/dacex/suma4.htm. Acesso em: 23 de março de 2006.
[1] Especialista em Inglês como Língua Estrangeira pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
[2] Prof. Ph.D. do Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
[3] Ver mais informações em http://www.veramenezes.com/amfale.htm.