PAIVA, V.L.M.O. E-mail: um novo gênero textual. In: MARCUSCHI, L.A. & XAVIER, A.C. (Orgs.) Hipertextos e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.p.68-90 

 

E-MAIL: UM NOVO GÊNERO TEXTUAL

Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (UFMG)

 

 

 

 

Histórico: a  transmissão das mensagens

 

Um novo gênero textual sempre nos força a pensar nos outros gêneros que o antecederam. Assim, antes de rever a história do surgimento do e-mail, gostaria de traçar uma breve história da transmissão de mensagens.

Podemos encontrar na homepage do correio belga[1] a história do correio postal e a primeira menção à transmissão de mensagem. Segundo o site, o início do correio tem origem na Grécia quando, em 190 A.C., um general Ateniense, após vencer o exército do rei da Pérsia, enviou um mensageiro para comunicar a Vitória aos Atenienses. O mensageiro correu aproximadamente 24 milhas até Atenas, mas segundo a história, morreu de exaustão e apenas balbuciou “vitória!”, antes de cair morto. Nesse episódio, temos o primeiro mártir do correio postal e a total falta de mediação de tecnologia. A mensagem enviada por outrem é mediada por um homem que fica responsável pela reprodução e transmissão do texto. Esta forma de transmissão requer um mensageiro que pode transmitir a mensagem para uma ou para muitas pessoas, mas sempre reunidas no mesmo local.

A transmissão de mensagens foi também mediada por aves. É sabido que muitos povos trocavam mensagens utilizando pombos-correios, grous e andorinhas, soltando os pássaros depois de pintá-los com cores de determinado significado, de acordo com um código estabelecido. 

Com o advento da escrita, é marcante a interferência da nova tecnologia na transmissão de mensagens e o desenvolvimento do gênero epistolar, representando um gigantesco avanço no sistema de comunicações. Uma prova incontestável do valor das redes postais são tábuas de argila encontradas em 1886 em Tel El Amarna, que testemunham a correspondência entre os soberanos Amenófis II e III do Egito com os babilônicos no século XV a.C., conforme documenta a História dos Correios no site Mundo da Filatelia[2] Segundo o mesmo texto, pequenas tábuas de cera e, depois, os papiros eram trocados continuamente entre Roma, seus exércitos e os funcionários espalhados nos vastos territórios conquistados

É também na história grega, segundo relato encontrado no mesmo site, que encontramos registro do primeiro sistema de correio.     

 

No Anabase (relato da retirada de 10 mil mercenários gregos durante a expedição do persa Ciro, o Jovem, contra seu irmão, Artaxerxes II, em cerca de 400 a.C.), o historiador Xenofonte escreveu: "Considerando o trajeto que um cavalo pode normalmente percorrer em 24 horas, mandou construir ao longo das estradas vários postos a igual distância um do outro, colocando neles homens e cavalos.  Em cada posto havia uma pessoa de confiança que recebia a carta trazida pelo correio, cuidava dos cavalos e dava assistência aos mensageiros cansados ou doentes.” 

 

 Mas os correios passaram a adquirir outra dimensão, deixando de ser um serviço exclusivo dos reis ao sofrer uma certa "privatização", no sentido de que os altos funcionários, aristocratas e comerciantes que serviam o império também usavam o cursus publicus para a sua correspondência particular de negócios, conforme relatam  Shanaham e Shanaham[3]. Os mesmos autores descrevem a origem do sistema de correio inglês da seguinte forma:

 

Durante o reinado da Rainha Elizabeth Primeira (1558-1603) havia um sistema de estradas postais. Os mensageiros, ou carteiros, andavam ou à pé ou a cavalo. A operação envolvia um grande número de cavalos, pois cada estágio era de apenas 10 milhas. Depois desse percurso um cavalo descansado era usado. Na maioria dos casos os cavalos eram mantidos em estalagens ou albergues.

Originalmente a maioria da correspondência era enviada pelo governo – freqüentemente questões militares. Havia menos correspondência privada, pois as pessoas comuns eram pouco letradas, e a nobreza usava seus próprios empregados para entregar a correspondência.[4]

 

O correio era um sistema elitista[5]. Começou servindo ao governo, aos comerciantes, intelectuais, universidades e ordens religiosas.[6] Cada mensageiro tinha seu status: o corredor levava mensagens menos importantes e o cavaleiro era um tipo de embaixador.

No correio postal, várias pessoas intermediam o processo de entrega ao receptor. Desvios de cartas e documentos podem acontecer, mas não há interferência na produção do texto. O sistema de comunicação é, prioritariamente, de um indivíduo para outro indivíduo, apesar de cartas e documentos poderem ser textos colaborativos, escritos a várias mãos, e de poderem, ainda, ser lidos em voz alta para várias pessoas. Para que uma mesma carta seja enviada a muitos leitores é preciso que várias cópias sejam feitas, envelopadas e endereçadas a cada pessoa individualmente.

Outros artefatos culturais surgiram para mediar a transmissão de mensagens. Samuel Morse criou o telégrafo e, segundo seu site histórico[7], em texto de Mabee (s.d.),  a primeira mensagem oficial, escrita em código Morse, foi enviada do prédio do Capitólio, em Washington, para a cidade de Baltimore, em 1844, com a seguinte citação bíblica ‘What has God wrought?[8]’ Segundo o site, ao usar essa citação, Morse manifestava seu espanto por ter sido escolhido por Deus para revelar a eletricidade ao mundo. Acontecia, então,  a primeira intervenção da eletricidade na mediação da comunicação entre os homens. No uso do telégrafo, um mensageiro é responsável pela codificação quando da transmissão do texto e outro pela recepção e decodificação.  A comunicação é de um para um, mas o texto corre risco de sofrer alterações após a mediação de duas ou mais pessoas diferentes e só pode ser decodificado por aqueles que conhecem o código morse.

Após a transmissão por eletricidade de textos escritos, começaram as pesquisas para a transmissão de voz[9].

 

Anotação de Alexander Graham Bell, datada de 10 de Março de 1876, descreve a primeira experiência bem sucedida com o telefone, quando ele falou com seu assistente, Thomas A. Watson,que estava no cômodo ao lado, através do aparelho. Diz a anotação: “Então eu gritei no bocal a seguinte frase 'Sr. Watson—venha aqui—quero te ver.' Para meu júbilo, ele veio e declarou que havia ouvido e entendido o que eu dissera."[10]

 

O telefone agrega, à transmissão de mensagens, a possibilidade de transmissor e receptor se comunicarem sem intermediação aparente de outras pessoas. Digo aparente porque, para que uma ligação telefônica aconteça, existe uma central telefônica com várias pessoas trabalhando para manter o sistema funcionando.

Na comunicação telefônica, a interação é, basicamente, de um para um. Avanços na tecnologia permitiram a interação entre grupos de pessoas em lugares diferentes, mas, acredito que esse tipo de interação não foi popularizado devido aos custos e à dificuldade de gerenciamento de uma interação sincrônica sem as devidas pistas de contextualização: movimento corporal, expressão facial e olhar.

A ficção, sempre se antecipando à ciência, previa o avanço da tecnologia de telefonia com a transmissão também da imagem do interlocutor. Experiências de utilização simultânea de vídeo e voz em conversas telefônicas foram bem sucedidas, mas essa tecnologia nunca se popularizou.

Outra forma de transmissão de mensagem bastante usada, principalmente, para fins comerciais, é o fax. Apesar de sua invenção ser anterior a do telefone, essa tecnologia só foi popularizada a partir de 1966, quando a Xerox lançou o aparelho de fax a ser operado em linha telefônica (Saunders, 2001). A partir do fax, o homem pode enviar fotos e gráficos, não ficando mais limitado por um código rígido. O texto pode ou não ser transmitido por seu produtor e dificilmente corre risco de sofrer alterações. No entanto pode haver falhas na transmissão, deixando o texto incompleto ou ilegível. Quem produz o texto também pode ser responsável pela transmissão e a entrega é feita sem a intermediação visível de outras pessoas.

Sintetizando, a transmissão de mensagens iniciou-se de forma oral, com mediação humana, depois vieram os textos escritos (tijolos de argila, tábuas de cera, papiros, e documentos em papel – cartas, bilhetes, memorandos, ofícios, requerimentos). Uma revolução na transmissão de mensagens acontece com o advento do computador e a criação do correio eletrônico.

 

O e-mail ou mensagem eletrônica

 

O termo e-mail (electronic mail) é utilizado, em inglês, para o sistema de transmissão e, por metonímia, para o texto produzido para esse fim. O mesmo termo é ainda utilizado para o endereço eletrônico de cada usuário. Em português nos referimos ao canal como Correio eletrônico e ao texto como mensagem eletrônica, mas o termo e-mail[11] já está tão enraizado em nossa cultura, que optei por mantê-lo.

O e-mail ou mensagem eletrônica é, geralmente, produzido pela mesma pessoa que a transmite e o receptor é, quase sempre, o destinatário da mensagem. O envio e a entrega de mensagens é mediada por um ou mais provedores de Internet e seu tráfego é determinado pela rede mundial de computadores, mas qualquer que seja a rota seguida, a entrega é, geralmente,  feita em segundos. Caso haja incompatibilidades entre os softwares utilizados pelo produtor e receptor, problemas na legibilidade podem acontecer. As mensagens podem chegar em branco ou cheia de sinais não decodificáveis.

 

Histórico: o e-mail

 

O e-mail, ou mensagem eletrônica, surgiu em 1971, quando  Ray  Tomlinson enviou a primeira mensagem de um computador para outro, utilizando o programa SNDMSG que ele acabara de desenvolver. De fato, ele enviou varias mensagens testes. Segundo ele As mensagens testes foram totalmente esquecidas. ... Muito provavelmente, a primeira mensagem foi QWERTYIOP ou algo semelhante. (In Campbel, 1998)

Foi também Tomlinson quem escolheu o símbolo @ para sinalizar a localização do endereço de cada usuário. Ele trabalhava, e ainda trabalha, para Bolt Beranek and Newman (BBN), uma companhia que fora contratada, em 1968, pelo Departamento de Defesa Americana para desenvolver o ARPANET[12].

Segundo Campbel (1998), após certificar-se que seu programa funcionava, Tomlinson enviou uma mensagem aos colegas do projeto, narrando o feito e instruindo-os a colocar a arroba entre o login do usuário e o nome do computador provedor. O primeiro uso do correio em rede, diz Tomlinson, anunciou sua própria existência.  Além do SNDMSG, programa para enviar e-mails, Tomlinson também desenvolveu o READMAIL para sua leitura[13].

A rede se expandiu e, segundo informações do site da RNP[14], a Internet chegou ao Brasil em 1988, fruto de ação conjunta do Ministério da Ciência e Tecnologia, CNPq, da FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos, da FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, da FAPERJ – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro e da FAPERGS – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul.

 Atualmente, é raro o estudante de uma instituição de ensino superior que não tenha seu endereço eletrônico e iniciativas governamentais estão, aos poucos, fazendo com que a Internet, e a conseqüente interação por e-mail, esteja ao alcance de todos os jovens em idade escolar.

As mensagens eletrônicas são hoje, possivelmente, o tipo de texto mais produzido nas sociedades letradas. É oportuno, portanto, refletir sobre a vantagens e desvantagens desse novo artefato cultural para a transmissão de mensagens:

 

 

VANTAGENS

DESVANTAGENS

Velocidade na transmissão.

 

Assincronia.

 

Baixo custo.

 

Uma mesma mensagem pode ser enviada para milhares de pessoas no mundo inteiro.

 

A mensagem pode ser arquivada, impressa, re-encaminhada, copiada, re-usada.

 

As mensagens podem circular livremente.

 

 

As mensagens podem, geralmente, ser lidas na web, ou baixadas através de um software.

 

Arquivos em formatos diversos podem ser anexados.

 

 

 

Facilita a colaboração, discussão, e a criação de comunidades discursivas.

 

O usuário é facilmente contatado.

Dependência de provedoras de acesso.

 

Expectativa de feedback imediato.

 

Acesso discado ainda é muito caro.

 

O e-mail pode ir para o endereço errado, ser copiada, alterada.

 

Há excesso de mensagens irrelevantes.

 

 

 

Mensagens indesejadas circulam livremente. 

 

Problemas de incompatibilidade de software pode dificultar ou impedir a leitura.

 

Arquivos anexados podem bloquear a transmissão de outras mensagens ou, ainda conter vírus.Arquivamento ocupa espaço em disco, gerando lentidão da máquina.

 

O receptor pode ser involuntariamente incluído em fóruns e malas diretas.

 

Há uma certa invasão de privacidade.

 

Como vimos no quadro acima, o correio eletrônico possui várias características positivas, mas há contrapartidas negativas. Se uma marca do novo meio é a velocidade na transmissão, essa por sua vez pode ser prejudicada por problemas nas provedoras, como caixas postais sem espaço, ou mesmo congestionamento no fluxo de mensagens. Veja exemplo abaixo de mensagem recusada devido a caixa postal cheia:

 

----- The following addresses had permanent fatal errors -----

<xxxxxxx@zipmail.com.br>

(reason: 552 RCPT TO:<xxxxxxx@zipmail.com.br> Mailbox disk quota exceeded)

 

De um modo geral, o custo é baixo se comparado a outras formas de transmissão como o telefone ou o correio convencional, principalmente, se se leva em conta a quantidade e diversidade de dados (texto, imagem e som) que podem ser transmitidos em segundos. No entanto, muitas pessoas dependem de acesso discado que ainda é muito caro no Brasil. Além disso, é preciso pagar uma provedora e os acessos gratuitos, segundo a imprensa, estão com os dias contados.[15]

A assincronia associada à velocidade de transmissão possibilita unir os membros de uma comunidade discursiva dentro do espaço de interação virtual onde cada um lê e produz mensagens na hora que lhe convém. Porém, estudos indicam que o novo gênero cria nos seus usuários uma ansiedade por feedback rápido (Paiva, 2003), gerando uma grande pressão no leitor. Há ainda mecanismos nos softwares de edição e processamento de e-mails que permitem ao autor solicitar ao seu leitor que confirme automaticamente, com um simples clique, o recebimento da mensagem. Ao aceitar a pressão, o leitor, de uma certa forma, se sente na obrigação de responder rapidamente, caso contrário, seu interlocutor saberá que sua mensagem foi lida, mas que a  resposta foi protelada.

Uma outra característica relevante do e-mail é a possibilidade de se enviar, ou re-enviar, um mesmo texto para pessoas no mundo inteiro ao mesmo tempo. O envio para vários endereços pode colocar os destinatários vulneráveis, principalmente quando seus endereços não são protegidos por cópia oculta. A velocidade com que as ações são executadas pode, ainda, fazer com que endereços errados sejam escolhidos. Qual de nós nunca recebeu uma mensagem por engano[16]. Além do engano na escolha do endereço, a velocidade e a falta de experiência com o meio faz com que os usuários enviem mensagens repetidas, ou em branco, e se esqueçam de anexar os arquivos que pensam estar encaminhando. O humor, sempre atento, faz circular na Internet uma piada que registra os principais enganos na utilização do correio eletrônico:

Parece que existe um virus chamado Virus Senil que não pode ser contido mesmo por programas avançados como o Norton. Assim tome cuidade, pois ele parece afetar aqueles que nasceram antes de 1965!

O Virus Senil faz com que você

1. envie o mesmo e-mail duas vezes.
2. envie e-mail em branco.
3. envie para a pessoa errada.
4. envie de volta para a mesma pessoa que o enviou a você.
5. esqueça de atachar os textos.
6. aperte o "ENVIAR" antes de terminar a mensagem.

Sua mensagem pode ainda ser copiada, alterada, circular livremente e seu nome utilizado sem que você saiba. Se a circulação livre dribla a censura e faz com que protestos e denúncias importantes circulem pelo mundo, ela também contribui para a circulação sem limites de mensagens não solicitadas (spams) e informações falsas (hoaxes).

A velocidade e a possibilidade de leitura on-line (webmail) das mensagens facilita o contato com usuários que, mesmo estando do outro lado do continente, podem continuar em contato com seus interlocutores de forma assíncrona. No caso de longas distâncias e diferenças de fuso horário, por exemplo, o e-mail contorna problemas como o de ter que acordar muito cedo ou deitar mais tarde para poder falar ao telefone com alguém em um horário confortável para o interlocutor. Algumas incompatibilidades de software podem dificultar a interação entre os usuários, mas este não é um problema muito recorrente. Hoje a maioria dos softwares já aceita acentuação, mas ainda podem ocorrer pequenas incompatibilidades e, algumas vezes, recebemos textos incompreensíveis, em branco, cheios de caracteres estranhos, ou com apenas um sinal como o seguinte: ÿþ.

A grande inovação do correio eletrônico é a possibilidade de transmissão de vários tipos de dados: textos diversos (formato texto, power point, tabelas, gráficos) imagem (desenhos, fotos), som (fala e música), e vídeo. Arquivos anexados, no entanto, podem conter vírus, gastar muito tempo para serem descarregados ou, quando muito grandes bloquear a transmissão. O Acúmulo de informações arquivadas pode ocupar muito espaço em disco e gerar lentidão na máquina. O aconselhável seria o arquivamento em CDs.

O correio eletrônico é uma ferramenta que facilita a colaboração, discussão de tópicos de trabalho e aprendizagem em grupos grandes, viabilizando a criação de comunidades discursivas, superando limitações de tempo e de espaço. O problema é que, às vezes, você é incluído, involuntariamente, em fóruns e malas diretas e, nem sempre, conseguirá se safar dessas redes com facilidade.

Apesar de todas essas vantagens, há uma verdadeira invasão de privacidade e a demanda em cima do usuário cresce a cada momento. No caso dos professores, a cada turma que se forma, é comum que pelo menos um ou dois alunos permaneçam em contato constante e o excesso de mensagens e a falta de tempo para gerenciar a caixa postal têm gerado queixas freqüente por parte de muitos usuários.

Bem antes da popularização do e-mail, McLuhan (1972), na década de 60, cunhara o termo “aldeia global” em decorrência das transformações geradas pela mídia eletrônica e a conseqüente “recriação” do mundo. Agora transformado em uma aldeia em função da velocidade e da simultaneidade, o mundo se conecta de forma multimídia e multisensorial e as distâncias entre os homens vão se reduzindo. Sua afirmação de que “o meio é a mensagem” nunca foi tão verdadeira. De fato, no caso do correio eletrônico, não é a mensagem que transforma o homem, mas o meio. O surgimento do correio eletrônico dividiu a sociedade entre os “com internet” e os “sem internet” e o endereço eletrônico passou a fazer parte dos dados pessoais de qualquer cidadão com maior inserção social. Seu uso mudou os hábitos interacionais, ampliou o acesso rápido a conhecidos e desconhecidos, diminuiu o uso do correio tradicional e aumentou a invasão de privacidade, tal o volume de correspondências indesejadas, na maioria das vezes, de gosto duvidoso.

 

 

 

 

E-mail: um novo gênero textual

 

A partir de minhas leituras de Bakhtin (1992), Bhatia (1994), Swales (1990), Bronckart (1999), e Marcuschi (2002), defino gêneros textuais como sistemas discursivos complexos, socialmente construídos pela linguagem, com padrões de organização facilmente identificáveis, dentro de um continuum de oralidade e escrita, e configurados pelo contexto sócio-histórico que engendra as atividades comunicativas.

O e-mail é gênero ou canal? Pelo correio eletrônico circulam vários gêneros (ofício, abaixo-assinado, receitas culinárias, propaganda), mas  defendo que existe um gênero específico associado a esse novo artefato.

McLuhan já dizia que o meio é a mensagem, uma forma de chamar a atenção para o fato de que o canal não é um mero veículo de transmissão, mas exerce forte influência no gênero que veicula. No caso do e-mail, a velocidade na composição e na transmissão do texto é um fator determinante na caracterização do gênero.

Indícios importantes para o novo gênero são citados por Campbel (1998)

Em trabalho publicado em 1978 pelo Institute of Electrical and Electronic Engineers, duas figuras importantes na criação da ARPANET, J. C. R. Licklider e Albert Vezza, explicaram a popularidade do e-mail. "Uma das vantagens do sistema de mensagens em relação à carta é que, em uma mensagem ARPANET, você poderia escrever concisamente e digitar com imperfeições, mesmo se dirigindo a alguém mais velho ou em posição superior, e, até mesmo, para uma pessoa que você não conhece, e o destinatário não vai se sentir ofendido....Entre as vantagens do sistema de mensagem em rede sobre o telefone é poder ir direto no assunto sem uma conversa preliminar, o fato de poder armazenar os textos, e de o emissor e receptor não terem que estar disponíveis no mesmo momento”.

A informalidade, a inobservância de algumas regras ortográficas, a objetividade, e a ausência de pré-seqüências são algumas características do gênero percebidas pelos cientistas citados acima.

O e-mail, ou mensagem eletrônica, segundo Gannon-Leary (1989:2),

 

é um meio de comunicação cada vez mais poderoso e eficiente com o potencial de tornar-se um dos principais meios de comunicação para a maioria das pessoas. É pessoal e informal e tem o poder de transformar alguém de receptor passivo em um participante ativo de discussões on-line.

 

Bronckart (1999:73) afirma que qualquer espécie de texto pode atualmente ser designada em termos de gênero e que, portanto, todo exemplar de texto observável pode ser considerado como pertencente a um determinado gênero. Para ele, todo texto se organiza dentro de um determinado gênero.

Entendo que o meio de transmissão de mensagens eletrônicas e-mail gerou um novo gênero textual, também denominado e-mail que gera textos diversos que se distinguem dos demais textos (anúncios, cartas, etc) também transmitidos eletronicamente. Crystal (2002) refere-se ao e-mail como troca conversacional (conversational exchange) breve e rápida (p. 109) e ressalta que a velocidade e espontaneidade de seu processo de produção, provavelmente difere da reflexão que permeia a produção escrita (p.111). O mesmo autor afirma que esse tipo de texto eletrônico tem um caráter dialógico, facilitado pelo software quando a opção responder é acionada (p.115).

Vejo o e-mail como um gênero eletrônico escrito, com características típicas  de memorando, bilhete, carta,  conversa face a face e telefônica, cuja representação adquire ora a forma de monólogo ora de diálogo e que se distingue de outros tipos de mensagens devido a características bastante peculiares de seu meio de transmissão, em especial a velocidade e a assincronia na comunicação entre usuários de computadores. Os seguintes aspectos – autor, leitor, comunidade discursiva, tecnologia, contexto, texto, organização retórica, léxico, sinais não verbais (emoticons[17] ou smileys), e normas de interação –  ganham características especiais quando se trata desse gênero.

O autor, ou produtor do e-mail, é uma persona de curto prazo (orientador, cliente, amigo, coordenador, colega, subordinado, etc) que interage com outros usuários, também personas de curto prazo (orientando, profissional, subordinado, colega, chefe, etc) com objetivos semelhantes, através da mediação de um artefato cultural eletrônico. Os desempenhos dos interactantes, ou usuários, estão condicionados, entre outros fatores, ao seu letramento eletrônico, idade, cultura, classe social, status, e gênero (masculino/feminino).

Os usuários formam uma comunidade discursiva que pressupõe uma competência comunicativa compartilhada, objetivos comuns (passar tempo, aprendizagem, etc), obediência a netiquetas e a orientação de moderadores, no caso de listas de discussão ou fórum. A competência comunicativa implica as competências pragmática, tecnológica e intercultural.

Tomando como base a definição de pragmática de Crystal[18] (1985:240), entendo a competência pragmática como a habilidade para fazer escolhas adequadas e observar restrições na interação social  de forma a se comunicar de forma efetiva e bem sucedida. O usuário com competência pragmática, além de usar a língua de forma adequada ao contexto (competência sociolingüística), seleciona e utiliza seus atos de fala, silêncios e emoticons de forma a produzir sentido e estimular a interação (competência ilocucional). A competência pragmática, em síntese, significa saber interagir, conviver.

A competência tecnológica é o saber fazer, saber manipular os softwares de produção e gerenciamento de e-mail, tirando o melhor proveito possível de todas as ferramentas disponíveis: mecanismos de edição (copiar, colar, deletar informações irrelevantes de mensagem anterior, usar o corretor ortográfico), customização (opção de formulários e planos de fundo, tamanhos e tipos de fontes, assinatura automática, seleção de idioma), gerenciamento (organização de arquivos de endereços e de mensagens, utilização de sinalizações de acompanhamento, exclusão automática de mensagens indesejadas), e configurações de teclado.

Quanto à competência intercultural, a partir da definição[19] de Byram (1997), citada por Tolbert (2003), entendo a competência intercultural como a capacidade de interagir com pessoas de outra cultura em língua estrangeira procurando formas de interação que não gerem constrangimentos e nem agridam ao interlocutor e que, ao mesmo tempo não representem danos a identidade do enunciador.

A competência intercultural é especialmente relevante nas interações por e-mail em listas de discussão onde participam pessoas de várias nacionalidades. Um exemplo que pode ilustrar essa questão diz respeito aos fechamentos. Enquanto em português, o fechamento “abraço” pode ser usado até entre interlocutores com pouca familiaridade, em inglês a palavra “hugs” soaria bastante íntima e invasiva.

 

E-mail e contexto

 

 Noblia (1998) ressata que

 

Como a comunicação mediada por computador é uma comunicação baseada em textos, ao contrário da comunicação face a face, sofre a ausência de indicadores não-verbais (gestos, expressões, olhares, entonação, acento, etc.) que normalmente ocorrem quando todos os participantes estão presentes no mesmo ambiente físico. Um paliativo para essa ausência é a “paralinguagem eletrônica” que oferece aos interlocutores os chamados “emoticons” (que tentam reproduzir sentimentos, emoções, risos, etc. através uma combinação de símbolos). Mas, na verdade, é apenas um paliativo e, a comunicação, especialmente se for sincrônica (on line), tem a vantagem se ser interativa enquanto a ausência de ambiente físico e a impossibilidade de acontecer face-a-face constituem suas desvantagens.

 

Nas disciplinas que ministro utilizando a interação por e-mail, não são raros os depoimentos de alunos que, espontaneamente, refletem sobre a interação online. Alguns se ressentem da ausência da interação face a face ou da ausência de contexto. Vejam alguns depoimentos

 

(1) O fato de não conhecer ninguém, além de não estar presente, vendo as pessoas, trocando idéias pessoalmente, me deixou sem referencial.

 

(2) It´s very interesting because I read several e-mails, learn with them, find out about new adress and day after day meet more people... I would like to know my colleagues. Is This possible?

 

(4).... Estou achando muito interessante este curso online...... interessante e diferente... Diferente porque durante todos estes anos como aluno, o contato que temos em sala de aula e de corpo a corpo, face a face , nos faz usufruir de outros recursos de comunicação que não acontecem neste universo on-line. Contudo, o meu proveito aqui não se resume somente aos comentários e os textos lidos, mas também no comportamento de todos nós, participantes virtuais deste grupo de estudo.

 

(5) e observo, entre outras, uma diferença na discussão on-line que estou sentindo na pele: a interação face a face tem um caráter mais intimista, e por ser assim torna-se mais fácil por ter respostas imediatas, etc, etc.. Por outro lado, a interação on-line também tem uma série de vantagens: pensamos mais, reformulamos questões, etc.

 

A falta de contexto (a ausência física do interlocutor balançando a cabeça, acompanhando o olhar ou ouvindo pistas de retorno de canal ou backchannels) gera um certo desconforto em alguns usuários e a velocidade na transmissão do e-mail parece ser o motor do sentimento de urgência gerado pelo novo gênero. Há, geralmente, uma forte ansiedade por feedback o que representa uma pressão no usuário para agir rápido e responder às mensagens, pois o silêncio nesse contexto é um poderoso feedback negativo que pode desestimular a interação e causar o abandono de fóruns de discussão ou, mesmo, cursos a distância.

 

Netiquetas

 

Para que a interação por e-mail seja bem sucedida, é necessário que o usuário da rede obedeça a algumas normas de interação. A bolsista de iniciação científica Rafaela Gonzaga de Oliveira comparou as normas apresentadas em 10 sites (vide endereços em apêndice) sobre netiquetas para e-mails e listas de discussão.

Após comparar as listas, a bolsista montou uma nova lista incluindo as regras mais recorrentes e, portanto, consideradas mais importantes para um bom comportamento interacional no convívio virtual na Internet.  São elas:

 

1.      Evitar escrever a mensagem inteira em caixa alta. Letras maiúsculas indicam que se está gritando, ou enfatizando algum termo ou expressão.

2.      Sempre especificar o assunto da mensagem no assunto/subject. Ajuda o destinatário a selecionar criteriosamente as mensagens a serem lidas.

3.      Seja claro, breve e objetivo. Evite erros gramaticais, e evite mandar mensagens muito grandes.

4.      Diversos programas de e-mails não são compatíveis com os caracteres acentuados da língua portuguesa, muitas vezes sendo impossível de se ler a mensagem enviada, portanto evitar acentuação.

5.      Não mandar e-mails não solicitados: correntes, avisos de vírus, propagandas, etc, pois elas geram trafego inútil na rede.

6.      Assinaturas em e-mails são interessantes, desde que não sejam muito longas. Aconselha-se não adicionar telefones pessoais, nem endereços.

7.      Usar os smileys (ícones que denotam emoções) como tentativa de demonstrar mais claramente o tom de sua mensagem, na internet não se é interpretado como se o fosse frente a frente conversando com alguém.

8.      Evitar flames (brigas), nem enviar ou responder a material provocativo. Nunca ofender, xingar ou gritar com alguém, ser conservador com o que escreve e liberal com o que recebe.

9.      Ao responder a um e-mail, apagar as linhas da mensagem recebida, deixando somente as partes essenciais da mensagem referenciada.

10.  Antes de fazer alguma pergunta ou enviar alguma mensagem para a lista, observar a discussão.  Não enviar mensagens que nada acrescentam ao tema da lista.

11.  Evitar mandar mensagens fora do tópico da lista. Algo mandado que não tenha a ver com o tema escrever no subject:  OT (off topic).

12.  Não mandar arquivos anexados para uma lista de discussão, ou quando o destinatário não o solicitou.

13.  Evitar cross-posting, mensagens enviadas para diversas listas. A maioria delas não aceita esse tipo de atitude.

14.  Procurar ler sempre os FAQ’s, respostas às suas perguntas podem estar respondidas. Leia o FAQ para saber o que se pode ser discutido, e quais são os tipos de mensagens indesejáveis.

15.  Respostas individuais devem ser mandadas diretamente para o destinatário e não para a lista inteira.

 

Utilizando as máximas de Grice (1972) – modo, qualidade, quantidade e relevância – e de Robin Lakoff (1973) – polidez –  que prescrevem como deve ser o comportamento do falante cooperativo, analiso da seguinte forma as instruções mais recorrentes em textos de netiqueta.

 

Máxima do Modo: identifique-se; não use caixa alta; especifique o assunto; seja claro, objetivo; use os emoticons para minimizar a ausência do contexto.

Máxima da Qualidade: Não envie hoaxes (mensagens mentirosas) e scams (contos do vigário; fraudes ).

Máxima da Relevância: especifique o assunto; evite mensagens fora do tópico da lista; não envie spam (mensagens indesejadas).

Máxima da Quantidade: apague as linhas das mensagens recebidas, deixando só as partes essenciais; mensagens individuais não devem ser mandadas para a lista; evite cross-posting (envio da mesma mensagem para várias linhas); evite arquivos atachados.

Máxima da Polidez: evite flames (mensagens agressivas); respeite a privacidade (não torne pública sua correspondência particular); “Say hi and bye” (use aberturas e fechamentos)

 

Flames, spams, scams e hoaxes

 

As máximas mais desobedecidas são a da polidez e da qualidade. Os usuários da Internet sofrem, diariamente, desrespeito à sua privacidade e têm suas caixas postais invadidas por spams, scams, e hoaxes. É freqüente também, principalmente em listas de discussão, as mensagens agressivas (flames). Essas mensagens são mais comuns em listas de discussão e, geralmente, condenam um comportamento ou discordam de forma irada de outros membros do grupo. Segundo Belk[20], os estudos demonstram que as pessoas tendem a ser mais agressivas no e-mail do que em outras formas de comunicação De fato, é comum a troca de insultos e agressões em listas de discussão não-moderadas, o que, mais uma vez, reforça a afirmação  de que a mensagem é o meio. Segundo McLuham (1972: 63)

 

a ecologia cultural tem bases razoavelmente estáveis no sensório humano e qualquer extensão do sensório pelos prolongamentos tecnológicos tem influência apreciável no estabelecimento de novos sistemas de relações entre os sentidos. Como as línguas são tecnologias, no sentido de constituírem prolongamento ou expressão (exteriorização) de todos os sentidos ao mesmo tempo, ficam elas mesmas imediatamente sujeitas ao impacto ou intrusão de qualquer expansão mecânica de algum sentido. Isto é, a escrita afeta diretamente a palavra não só em suas inflexões e sintaxe, como também em sua enunciação e usos sociais.

 

Eu acrescentaria que, na interação por e-mail, os “agressores” têm a face menos exposta devido à distância entre os interlocutores e à rapidez com que as mensagens são, geralmente, produzidas, o que implica menos reflexão e monitoramento no processo da escrita. Exemplos freqüentes podem ser encontrados na CVL[21] (comunidade virtual da linguagem). Enunciados agressivos (ex. “Idiota completo que é, esse senhor...”; “não estou obrigada, por nenhum tipo de compromisso, a nenhuma "cordialidade acadêmica fin-de-siècle") foram veiculados em discussões recentes naquela lista e causaram muita indignação.     

A reincidência dos flames levou a Eudora[22] a desenvolver um programa que, detecta palavras chaves para analisar o grau de agressão do texto quando o usuário recebe um e-mail  ou quando clica para enviar uma mensagem. O grau de agressividade é classificado através de ícones de pimentas. Uma pimenta significa “é melhor que você conheça a pessoa”; duas pimentas indicam que você deve ter cuidado, pois está lidando com fogo, e três pimentas aconselha o usuário a “lavar seu teclado com sabão”

As mensagens não solicitadas, ou spams, inundam nossas caixas postais. São propagandas das mais diversas e a maioria delas nos oferece remédios para emagrecer, para melhorar a performance sexual, convite a visitar sites pornográficos, dinheiro fácil, férias imperdíveis, mensagens políticas ou religiosas, dentre muitos outros.

Como adverte Chapman, os spams não custam praticamente nada para quem os envia, pois a maior parte de seu custo é pago por quem recebe que paga pela conexão e gasta seu tempo tentando se livrar de tanto lixo. Em função do baixo custo, o emissor envia sua mensagem para qualquer endereço que consiga garimpar em listas de discussão e sites diversos e, com freqüência, altera seu login diariamente de forma a burlar os filtros para mensagens não desejadas à disposição do usuário em seu gerenciador de e-mails. 

Os scams são mensagens que podemos classificar como conto do vigário, pois tentam induzir o leitor a um prejuízo financeiro, propondo ganho fácil de dinheiro, uma oportunidade imperdível, que na realidade é um logro. Além das correntes da sorte e produtos de qualidade duvidosa, um dos scams mais famosos está associado à uma suposta fortuna de um nigeriano[23], bloqueada em um banco no exterior. As mensagens são geralmente longas e sempre em inglês. Reproduzo abaixo apenas trecho de uma dessas mensagens

 

We would need you as a Foreigner acting as the next of kin and sole benefactor to the inheritance of Mrs. Ann Barbara Myers to travel and claim this money in a SECURITY COMPANY based in Europe which is used by my bank as an offshore payment center to the bank. The money will be paid to you for us to share in the ratio of 60% for me and 40% for you.

There is no risk at all as all the paperwork for this transaction will be done by the Attorney and my position as the head of the accounts/operations dept guarantees the successful execution of this transaction.

 

Se o leitor aceita a proposta de mediar a retirada do dinheiro de um banco no exterior, ele vai ter que adiantar algum dinheiro para as taxas e, na tentativa de ficar rico de forma fácil, acabará perdendo um bom dinheiro.

Uma lista dos scams mais comuns, com descrições detalhadas, pode ser vista no site Top Tem Dot Com[24].

Os hoaxes são mensagens que têm por objetivo enganar ou ludibriar o leitor e se assemelham aos trotes e mitos urbanos. O exemplo mais comum é o falso alerta contra vírus de computador. Segundo o site Stiller Research[25], uma mensagem hoax inicia-se com palavras em letras maiúsculas no título e te avisa sobre o perigo de se abrirem e-mails com determinados títulos. Veja exemplo:

 

VIRUS  WARNING !!!!!!
      If you receive an email titled "WIN A HOLIDAY" DO NOT open it.

 

Outros exemplos são: falsa morte de celebridades e pedidos de ajuda. Gabriel Garcia Marques já teve sua pretensa morte anunciada na lista de notícias de Mark Warschauer[26](que se desculpou em seguida ao descobrir que fora enganado) e circula na Internet um poema/carta despedida do escritor, que, realmente, sofre de câncer, mas não produziu tal texto. Outro hoax famoso é a corrente sobre uma criança que sofre de câncer. O autor pede que repassemos a mensagem para a Sociedade Americana do Câncer e que, supostamente, receberia 3 centavos a cada mensagem recebida. Várias versões desse texto circulam pela Internet.

Spams, scams e hoaxes são variações de gêneros que já circulavam antes da existência da Internet. As propagandas por malas diretas sempre encheram nossas caixas de correio; incautos sempre caíram no discurso persuasivo do conto do vigário e acreditaram em trotes e mitos urbanos se encarregando de repassar as narrativas para frente. Com as novas tecnologias, esses tipos de texto ganharam maior circulação e efeito perlocucionário mais poderoso. Quando recebemos uma mensagem pedindo ajuda ou alertando contra algum perigo, nossa solidariedade é acionada, e, em conseqüência, repassamos o texto para todos os amigos, contribuindo para o excesso de mensagens e todas as suas conseqüências negativas.

 

 

O e-mail: características do gênero

 

O correio eletrônico é um novo canal de mediação de gêneros já conhecidos e deu origem a um novo gênero que agrega características do memorando, do bilhete, da carta, da conversa face a face e da interação telefônica. Dos textos escritos herda a assincronia. Do memorando toma de empréstimo semelhanças de forma que é automaticamente gerada pelo software; do bilhete a informalidade e a predominância de um ou poucos tópicos; da carta as fórmulas de aberturas e fechamentos. Dos gêneros orais herda a rapidez, a objetividade e a possibilidade de se estabelecer um “diálogo”. Da conversa face a face, temos um formato que guarda alguma semelhança com a tomada de turno e a interação telefônica, além de limitações contextuais também semelhantes, mas com a possibilidade de colocar em contato pessoas que se encontram geograficamente distantes. Os usuários têm a intuição de que estão utilizando um novo gênero que difere dos mencionados acima, mas que ao mesmo tempo guarda uma certa semelhança. Para comprovar essa afirmação lustro com um exemplo de meu corpus onde o autor termina seu texto dizendo “Desculpe pelo tamanho do email ( parece mais uma carta), mas o assunto merece.”

Na figura abaixo, reproduzo uma tela semelhante ao memorando, gerada pelo  Microsoft Outlook.

 

 

Na primeira linha, é obrigatório o preenchimento do campo com o endereço digital de um ou mais destinatários; na segunda linha, o usuário pode inserir endereços para onde serão enviadas cópias da mesma mensagem. Outro campo embutido na segunda linha é um espaço para cópias ocultas, ou seja, você pode enviar cópias para outras pessoas sem que o destinatário saiba. Na terceira linha temos o assunto, que segundo Crystal (2001:97) é um elemento crítico na tomada de decisão sobre prioridade de leitura ou até de descarte do texto. Através dos assuntos, podem ser filtradas mensagens indesejadas, utilizando-se ferramentas do próprio gerenciador de e-mails ou de outro programa. Um outra opção é a assinatura do usuário que pode ser inserida automaticamente assim que o autor inicia uma nova mensagem. Na ilustração acima usei apenas meu nome e o endereço de minha homepage, mas outras informações podem ser acopladas. A data é gerada automaticamente pelo software.

 

Aberturas e fechamentos

 

Apesar das netiquetas indicarem ser de bom tom inserir cumprimentos e  despedidas nos e-mails, dados coletados pela bolsista de Iniciação Científica, Rafaela Gonzaga de Oliveira revelam que, em uma seqüência de 1008 mensagens eletrônicas da lista de discussão, TESL-L[27], utilizando a língua inglesa, predominam as mensagens sem aberturas e/ou fechamentos. Foram encontrados apenas 158 e-mails com aberturas e fechamentos; 47 só com abertura, e 214 só com fechamentos, totalizando 205 aberturas e 372 fechamentos. São 58% de e-mails sem abertura ou fechamento, 16% com aberturas e fechamentos, 21% com fechamentos e apenas 5% com aberturas.

Quanto às aberturas, foram catalogados 60 Hi e suas variações (Hi all /  Hi colleagues); 35 Hello e suas variações (12 Hello; 9 Hello all; e variações: Hello everyone/Hello X); 88 Dear X e suas variações (20 Dear colleagues/18 Dear all, etc.); 27 Dear TESLers e suas variações (TESL’ers/ TESL-ers/TESL-Lers/TESL); 6 nomes próprios (um precedido de Absolutely); 2 Tesl-ers; 5 Greetings, e uma ocorrência de cada uma das seguintes expressões: Tesl-ers;Hey everyone; Esteemed Ladies and Gentlemen;G'day all; Good Day; Good Morning; Good morning colleagues; Greetings all; Greetings fellow listers; Shalom!!

As aberturas ora dirigem-se a todos (ex. Dear all), ora selecionam o participante apenas (ex.Dear Laura), ora selecionam um participante e dirigem-se também a todos (Dear Irma Cook and other members of the list) e ora apenas cumprimentam (ex. Good Morning).

Os 372 fechamentos incluíram 108 agradecimentos ( 34 Thanks; 18 thank you; 8 Thanks in advance; 6 Thanks for your help; 5 Thanks for letting me share); 23 Cheers; 20 Good luck; 15 Hope this helps; 12 Best wishes; 11 Regards. Os demais incluíram pedidos explícitos de feedback (ex. Any comment will be highly appreciated) ou na forma de pergunta (So what do you think?); pedidos de ajuda (ex. Any useful tips, please?); sinalização de que a intenção foi a de cooperar (ex. Hope this helps); perguntas entregando o “turno” (ex. What online resources might you suggest?). Três desses e-mails sinalizaram continuidade (TO BE CONTINUED!), provavelmente devido à política da lista de não permitir mensagens muito longas.

 

A interação

 

A interação em listas de discussão é uma atividade de linguagem que se constrói localmente e que exige bastante colaboração e cooperação devido à ausência de elementos típicos do contexto face a face (ex. mecanismos de seleção do falante). Os mecanismos de edição das mensagens contribuem para a produção de textos coerentes e de fácil processamento. Veja a diferença entre os e-mails abaixo.

 

E-mail (1)

 

From:  "Vera Menezes" <vlmop@uai.com.br>
Date:  Wed Feb 12, 2003  9:37 am
Subject:  feedback

 

Iris,

>Well, first of all, I visited www.stuff.co.nz and they said that
>they are looking to the international community to act. They are
>working hard to avoid United Nations Iraq has agreed it
>unconditionally to overflights by U-2 surveillance planes, a key
>demand of Un weapons inspectors, Baghdad´s UN ambassador says.

Which country is this?

I am glad you liked the fables and also because of your achievements.

Peace,

Vera

 

E-mail (2)

 

From:  "xxxxxxx" <xxxxxxx@terra.com.br>
Date:  Thu Feb 13, 2003  8:32 am
Subject:  Re:[rwufmg] Digest Number 91

 

Hi Vera, the country is New Zealand, I am sorry.

Iris

 

No primeiro e-mail, a carinha indica que sou a moderadora da lista de discussão o que me confere, naquela comunidade discursiva, alguns direitos, tais como os de selecionar falantes e propor tópicos.

A mensagem em pauta pede esclarecimento sobre trecho de mensagem anterior enviada por Íris (nome fictício). O sinal > sinaliza os enunciados reproduzidos do e-mail anterior, enviado por Íris, e dá feedback sobre o aproveitamento da aluna ao realizar exercícios on-line sobre leitura de fábulas. São poucos enunciados e parte da coerência é construída pela repetição de enunciados do interlocutor e parte pelo contexto, já que Íris havia aludido, na mensagem que provoca a resposta (feedback), que gostara das fábulas e que havia acertado 90% das questões de um tipo de exercício e 100% de outro. Apesar de meu cuidado em não deletar parte do texto essencial para o contexto, no segundo tópico não há nenhum índice que auxilie o leitor a recuperar texto anterior. O mesmo acontece com o e-mail (2) em que Iris fornece a informação, mas a pergunta que motivou a resposta não é fornecida. São esses traços do e-mail que considero muito semelhantes à interação conversacional.

               Ao manter o texto anterior, apagar partes e selecionar o local adequado para inserir comentários e perguntas o enunciador escolhe o local de transição relevante, e assume seu turno. Falas do primeiro enunciador podem ser entremeadas com o do segundo, gerando um texto muito semelhante ao diálogo oral.

Vale ressaltar que o processo de leitura das mensagens não é obrigatoriamente linear, pois o leitor pode lê-las por hierarquia cronológica (começando da mais antiga ou da mais nova), por ordem alfabética (começando do A ou do Z) ou por assuntos, também ordenados alfabeticamente.

 

Conclusão

 

O gênero é um sistema discursivo complexo e, tomando como referência Swales (1991), podemos dizer que o correio eletrônico e a língua inglesa têm contribuído para a formação de inúmeras comunidades discursivas multiculturais. Essas comunidades, compostas de usuários muito proficientes ou pouco familiarizados com o novo gênero, têm objetivos públicos comuns ao utilizarem os mecanismos de intercomunicação como as listas de discussão, fornecendo informação e feedback através dos e-mails, e gerando léxico específico. Alguns exemplos do léxico específico gerado a partir do novo gênero são: blind copy, smileys, emoticon, attachment (atachado), IMHO (in my humble opinion) e muitos outros acrônimos que foram gerados pela necessidade de agilidade nesse tipo de produção textual

O inglês tem sido adotado como a língua franca da Internet e, segundo Nobia (1998:4), esta expansão da língua inglesa através da Internet também significa a expansão e a imposição, até certo ponto de forma inconsciente, dos valores de uma cultura. O surgimento de novos gêneros afeta outros sistemas complexos, especialmente as relações humanas. A Internet e os gêneros dela decorrentes têm exercido forte influência nas relações humanas: no exercício da cidadania, na vida cotidiana, e na educação.

O humor registra todas essas transformações. Randy Glasbergen (1999) captou o quanto a Internet afeta as relações humanas na charge onde o adolescente isolado em seu quarto comunica aos pais que descerá para visitá-las se algum dia seu disco rígido estragar e sinaliza para a imprevisibilidade da nova tecnologia quando, na mesma charge, o adolescente solicita ao final que os pais mandem comida por e-mail.(If my hard drive ever crashes, I will come downstairs to visit you sometime. P.S: Please E-Mail me some food) . Em outra charge (Glasbergen, 1996), uma viúva conversa com o marido morto, cujo endereço é WalterZ@Heaven.com ("My husband passed away eight months ago, but we still keep in touch.  His e-mail address is WalterZ@heaven.com").

Ter acesso ao correio eletrônico é hoje uma questão de inclusão social. O e-mail gerou uma revolução nas relações humanas, especialmente na área educacional, e merece ser mais estudado.Como todo sistema complexo, o gênero é um sistema aberto e novas possibilidades de gerenciamento e de produção de texto podem surgir. Conseqüentemente, novas mudanças no comportamento discursivo poderão acontecer, cabendo a nós, os cientistas da linguagem, estarmos atentos a esse novo gênero.

 

 

 

   

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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CRYSTAL, D. Language and the Internet. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

 

CRYSTAL, D. (1985). A dictionary of linguistics and phonetics. 2nd. edition. Oxford: Blackwell.

 

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CHAPMAN, J. Spams and scams. http://www.familychronicle.com/spamscam.htm

Acesso em 21 de maio de 2003.

 

LARSEN-FREEMAN, D. Chaos/complexity science and second language acquisition. In: Applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, v.2, n.18, p.141-165, 1997.

 

GANNON-LEARY, Pat. The ethics of electronic mail. IRISS’98 Conference: 25-27 March 1998, Bristol, UK. [http://www.sosig.ac.uk/iriss/papers11.htm]  acesso em 27/03/2002

 

GLASBERGEN, R., In: Randy Glasbergen's funny pictures. http://membres.lycos.fr/TheWalrus/comp1.gif (acesso em 12/08/2003)

 

GRICE, H. P. Lógica e conversação. In: Fundamentos Metodológicos da Lingüística. Marcelo DASCAL (Org.) Vol. IV. Campinas, 1982.

 

História dos correios [http://www.geocities.com/mundodafilatelia/Histcorr/corranti/ corranti. Htm] acessado em 21/08/2002.

 

LAKOFF, R. The logic of politeness: minding your p’s and q’s. Papers form the 9th Regional Meeting, Chicago Linguistics Society, 1973. p. 29-305.

MABEE, C. Biography of Samuel F. B. Morse, adaptado de seu livro The American Leonardo, a Life of Samuel F. B. Morse [http://www.morsehistoricsite.org/morse/ morse.html]

MAcLUHAN, M & FIORE, Q. The medium is the message. New York: Bantam Books, 1967.

MAcLUHAN, M & FIORE. Guerra e paz na aldeia global. Trad. Ivo Pedro de Martins. Rio de Janeiro, Record, 1971.

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 http://homepages.ihug.co.nz/~awoodley/Letter.html   (acessado em 19/08/2002)

 

SWALES, John M. Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.

 

TOLBERT, S. Intercultural Competence. 

http://www.discover.tased.edu.au/lote/global/IntCompetence/intcomp.htm. Acesso em 08 de Janeiro de 2003.

 

APÊNDICE

 

01 - Netiqueta

(http://www.netvale.com.br/NetVale/faq/netiqueta.html)

02 - DICAS DE INTERNET

(http://www.zapnet.com.br/zapnet/netiqueta.html)

03 - Embratel - Saber mais sobre Internet via Embratel

(http://www.embratel.com.br/internet/tecnologia/aplicacoes/navegacao_netiqueta.html)

04 - MAGNET

(http://www.magnet.com.br/magnet/sputnik/netiqueta1.html)

05 - Rede SACI - Netiqueta regras de etiqueta para a Internet

(http://www.saci.org.br/usuarios/netiqueta.html)

06 - Netiqueta

(http://thecore.com.br/macan/curso/netiqueta.html)  

07 - Netiqueta

(http://www.mulhernatural.com.br/netiqueta.htm)

08 - Zapnet - Suporte -- Serviços

(http://www.zapnet.com.br/zapnet/netiqueta.html)

09 - Netiqueta, regras de boa convivência na Internet

(http://www.infodicas.net/artigo_003.htm)

10- Mensagem aos assinantes da Linux-br(http://linux-br.conectiva.com.br/regras.php3)

 



[1] [http://pv.en.bpg.post.be/EN/private/%5C/our_company/wereld_post/history/default. asp] acesso em 10 de agosto de 2002.

[2] [http://www.geocities.com/mundodafilatelia/Histcorr/corranti/ corranti.htm] acesso em 10 de agosto de 2002.

 

 

[3] [http://homepages.ihug.co.nz/~awoodley/Letter.html] acesso em 10 de agosto de 2002.

[4]Essa e todas as outras traduções são de minha responsabilidade.

[5] Curiosamente, o correio eletrônico tem trajetória semelhante. Criado para assuntos militares para defesa do estado, teve seu acesso democratizado e popularizado à semelhança do correio postal. Há também uma relação na estrutura de transmissão, pois o correio eletrônico também depende de pontos de transmissão os POPs  (Post Office Protocol), ou servidores de e-mail, que recebem e retransmitem as mensagens através de redes  (backbones) interconectadas que compõem a infovia mundial.

[6] O correio eletrônico tem trajetória semelhante, começou no governo, se estendeu às universidades, às pessoas de bom poder aquisitivo e encontra-se, no momento em fase de democratização com várias iniciativas de tornar o acesso público possível às camadas de baixa renda.

[7] [http://www.morsehistoricsite.org] acesso em 10 de agosto de 2002.

 

[8] O que Deus aprontou? (tradução de Carlos Alberto Gohn).

[9] A mesma ordem sofreu o correio eletrônico, primeiro por texto e, agora, já disponível em voz.

[10] [http://www.loc.gov/exhibits/treasures/trr002.html] acesso em 10 de agosto de 2002.

 

[11] Utilizarei e-mail para a mensagem e Correio Eletrônico para o meio.

[12] ARPANET = Advanced Research Projects Agency Network . 

[13] Mais informações podem ser obtidas em [http://livinginternet.com/?e/ei.htm] acesso em 10 de agosto de 2002.

[14] [http://www.rnp.br/rnp/rnp-historico.html] acesso em 10 de agosto de 2002.

 

[15] Dez dos 11 provedores de acesso gratuito surgidos entre o final de 1999 e o início de 2000 fecharam as portas, com pesados prejuízos. O próprio iG, segundo a Abranet, teria apresentado prejuízo de US$ 70 milhões em 2000. http://noticias.uol.com.br/mundodigital/ultimas/ult1345u5.jhtm, acesso em 26/12/2002.

[16] São freqüentes, também. Os enganos nas ligações telefônicas. A diferença é que, quando se comete um engano na utilização do e-mail, o texto é repassado integralmente para o receptor errado. Enganos semelhantes acontecem com o fax, mas a freqüência é bem menor.

[17] Emoticons ou smileys são “carinhas” produzidas a partir de caracteres (ex. :) ou J ) e utilizadas para expressar emoções.

[18] “O estudo da lingua do ponto de vista dos usuários, em especial as escolhas feitas, as restrições encontradas ao usar a língua em interação social e o efeito de seu uso sobre outros participantes em um ato de comunicação” (Crystal 1985, p. 240).

[19] Intercultural Competence is being able to interact with people from another country and culture in a foreign language - being able to negotiate a mode of communication and interaction which is satisfactory to oneself and the other interlocutors. Knowledge of the other culture is linked to language competence through the ability to use language appropriately and having an awareness of the specific meanings, values and connotations of language. In: Byram, M.Teaching and Assessing Intercultural Communicative Competence. Multilingual Matters, Sydney. 1997

[20] Jeffrey K. Belk é vice-presidente da Qualcom Eudora que desenvolveu um software para monitorar os flames. [http://www.wired.com/news/technology/0,1282,38723,00. html].

[21] [http://groups.yahoo.com/group/CVL/]

[22] [http://www.howstuffworks.com/news-item229.htm].

[23] Várias versões podem ser encontradas no endereço [http://www.truthorfiction.com/rumors/ nigeriascams.htm]

[24] http://www.ftc.gov/bcp/conline/edcams/dotcon/?NetServe

[25] http://www.stiller.com/holiday.htm

[26] Mark Warschauer é um dos nomes mais famosos na área de aprendizagem de línguas mediada por computador.

[27] A TESL-L , fundada e coordenada por Anthea Tillyer (CUNY), em 1991, é a maior e mais antiga  lista de discussão da Internet. Segundo dados da própria lista, em outubro de 2000, eram 27.749 membros em 159 países com uma média de 10 mensagens por dia, com variações em determinados períodos.

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