Narrativa
coletada por ELAINE FERREIRA DO VALE BORGES (pesquisadora do projeto)
Interesse na produção/no olhar da narrativa pela pesquisadora:
abordagens de ensino/aprendizagem de LE
Nome: Flora Reyes (autoriza o uso do nome verdadeiro)
Idade: 23 anos
Escolaridade: 3o grau incompleto (professora de espanhol)
Tempo de aprendizagem da LE: 5 anos (Espanhol)
Data da coleta: 04/08/2007
Meu pai é espanhol, mas não falávamos muito espanhol
em casa porque minha mãe não sabe falar e também
não entende. Mas, de vez em quando, ele gostava de falar em espanhol
comigo e com minha irmã, e aos poucos fomos aprendendo a língua.
Já com meus avós, também espanhóis, era bem
diferente. Sempre que íamos visitá-los, eles falavam com
a gente em espanhol, e poucas vezes tive problemas em entendê-los,
mesmo que às vezes lhes respondesse em português, por não
saber ao certo como se diziam algumas palavras.
Assim se seguiu durante toda a minha infância: não cheguei
a estudar a língua e não aprendi a falar muito bem, embora
já me arriscasse e já a compreendesse perfeitamente.
Quando tinha doze anos resolvi começar a estudar mais a fundo.
Minha mãe me matriculou num curso de espanhol, mas não me
adaptei ao grupo. Eram todos adultos, empresários e desisti do
curso. Então, meu avô percebeu meu interesse pela língua
e me deu de presente alguns livros didáticos que eu ia estudando
sozinha.
Este interesse foi morrendo na adolescência, quando deixei o espanhol
um pouco de lado. No entanto, minha escola oferecia o Espanhol, e durante
dois anos estudei a língua, apesar de reconhecer que as aulas eram
um pouco ruins.
Em 2002, viajei à Barcelona, e durante seis meses estudei regularmente
em um curso para estrangeiros, atingindo o nível superior. Lá,
assistir desenhos infantis com minha priminha espanhola foi a forma mais
eficaz que encontrei no começo para aprender a me comunicar melhor.
Depois comecei a namorar um rapaz que, coincidentemente, estudava Letras,
e ele me ajudou muito a compreender as diferenças maiores entre
o português e o espanhol. Quando voltei continuamos o namoro à
distância, por cartas, internet e telefone. Manter esta relação
mesmo após voltar ao Brasil foi fundamental para que eu continuasse
fluente na língua.
Em 2003, já no Brasil, comecei a dar aulas particulares de espanhol.
Fui à casa de minha professora de espanhol no Ensino Médio,
e ela me recebeu muito bem, me dando materiais didáticos e muitas
dicas. Ela mesma assumiu que quando me deu aulas estava começando
e não tinha muita prática, e que hoje considerava aquelas
aulas péssimas.
Tive alguns alunos que progrediram muito bem, apesar de eu não
conhecer muitos métodos. Como tinha muita fluência, meu enfoque
era bastante centrado na conversação, o que às vezes
incomodava os alunos, porque era evidente que eu não sabia explicar
algumas regras com a clareza necessária.
Em 2005, fiz um curso superior, aos sábados, num dos principais
centros de ensino da língua de São Paulo, o Colégio
Miguel de Cervantes. Antes mesmo de terminar o curso e aprovar o exame
de proficiência DELE, já estava contratada numa escola de
idiomas de São Carlos (cidade onde fui morar para cursar a faculdade
de música), onde recebi a ajuda e o treinamento da coordenadora
de espanhol, uma uruguaia muito exigente e que me acolheu com disposição
para me ensinar a adquirir confiança, a conduzir uma aula de forma
competente e a trabalhar as quatro destrezas da língua. Nós
nos tornamos amigas pessoais, e esta relação foi um intercâmbio
muito rico de métodos e experiências em aula que me fez crescer
muito como profissional.
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