1 ° Entrevista
Sexo: Feminino

- Então, eu me formei na Universidade Católica de Goiás, terminei meu curso em julho de 2005. Antes de terminar eu já trabalhava , trabalhei com ensino infantil, fundamental I. Então eu já tenho três anos de sala de aula.
Hoje eu trabalho na rede pública no município e na rede particular; aqui no município em trabalho com sétima e oitava série, e pra mim, o ensino de língua estrangeira não se realiza, nas escolas regulares particulares ou públicas, nas particulares ele se realiza quando há uma estrutura de cursinho, livre, como muitas escolas tem oferecido, né? O ensino é feito extra do horário de aula nao é feito em horário regular e a sala é dividida pelo conhecimento, há um nivelamento dos alunos, pelo conhecimento que eles têm de língua, aí sim na minha opinião eu tenho esse mito de que o ensino se realiza dessa forma forma (nivelamento).


Aqui no município a gente tem algumas vantagens que poderiam ser utilizadas para o ensino de língua estrangeira mas infelizmente não são. Que é o caso da carga horária, nós temos três aulas por semana, cada uma com o prazo de uma hora, quer dizer nos teriamos uma carga horario de um ensino ( de um cursinho livre) né, mas que poderia muito bem ser aproveitado, mas o que acontece na realidade dos alunos do município, são alunos que passam por esse sistema de ciclo que muitas vezes são prejudicados por isso isso, porque nao há uma acompanhamento extra-classe que deveria ter, para dar suporte para esse passar de ano, por idade, tem que ter idade, não conhecimento, e na verdade é o que acontece.
Então a realidade que a gente se depara são com alunos analfabetos ou semi –anafalbetos, mesmo na sétima e na oitava série. O que eles cobram da gente, os alunos: professora eu não sei lê, então eu não sei inglês, como é que eu faço? Bom, aí a coordenação passa pra gente , a gente vai ter um horário para dar reforço para esses alunos, mas eu vou dar reforço de quê? De inglês? Reforço de português? Esse aluno tem sede de ler. Esse aluno que aprender a ler primeiro, até para se adequar as outras crianças, os coleguinhas.


Aí que acontece, nós temos aqui alunos com o nível muito, muito bom, nível de oitava série e salas com o nível muito ruim, salas que são até muito discriminadas, mas são vistas com olhos diferentes pelos professores e eles próprios alunos, que sentem rejeitados pelas salas que sabem mais, são diferenciados por isso. Então nós temos as salas que os professores brincam a sala amor, quando você chega lá, você vai fazer tudo que você se propõe, e temos uma sala onde as coisas não andam.


Bom quando a gente vai, como é meu primeiro ano no municipio, quando a gente entra em contato com isso a gente leva um choque ao mesmo tempo que eu estou dando aula, eu estou me especializando, né. E ai a gente estuda uma coisa na especialização e entra em choque com uma realidade completamente diferente. A graduação não te prepara para receber esse choque. A gradução te dá uma visão de um ensino de língua estrangeira que se realiza, que se realizam em uma sala que tem poucos alunos, numa escola que tem uma estrutura boa, que tem um material adequado, que te proporciona um ambiente favorável ao ensino, que têm uma consciência que o ensino de língua é importante. Quando você chega numa escola regular, repito particular, ou municipal ou estadual a realidade é completamente diferente.


O inglês ainda é visto como uma atividade extracurricular, ele deixa de ser uma atividade incluída num currículo e passa a ser extracurricular. É aquela estória, a é inglês mesmo, não importa, não tem aquela consciência que a gente sabe que tem que ter, a não é porque tem no rádio, na internet, é em relação a comunicação a sua própria identidade. Isso está na cabeça do professor, mas na coordenação, na cabeça dos alunos não se reliza, então há um choque muito grande entre teoria e prática que é uma discussão infinita, sobre prática e suas relações. Quando eu estudo sobre didática e prática na formação de professores eu me encontro num dilema completo. (Eu digo isso nao se reliza, é uma utopia.) O ensino numa escola regular de língua estrangeira para mim é uma utopia, eu não acredito nele. Como você vai ensinar uma coisa que você não acredita é terrível, você fica o tempo todo em conflito com si mesmo, porque ele é importante para o aluno. A própria escola ela exclui, não proporciona o ensino real para o aluno. O aluno chega na oitava série analfabeto, ele é excluido sim.


Então e a inclusão ai, fica um pouco, completamente esquecida. Ela não se realiza. Inclusão para mim é uma mentira, dentro da escola, em qualquer escola. Nós temos alunos especiais, especiais assim, com alguma dificuldade, temos, mais não há nenhuma acompanhamento pra esse aluno, esse aluno faz atividade dentro da sala de aula completamente diferente, ele vai pintar, desenhar, o aluno não escreve, então ele vai pintar alguma tarefa que seja, ele vai fazer um desenho livre, isso não é inclusão, está sendo excluído da mesma forma, porque ele não tá acompanhando a turma. A inclusão nao é só convivência com pessoas que são ditas normais, de jeito nenhum. Ela é muito mais que isso é desenvolver habilidades que essa pessoa tem capacidade, é acompanhar, é inseri-lá dentro de um contexto maior. Que é o que não acontece. Então a prática fica completamente diferente da teoria. Nós de certa forma, a gente se encontra perdido. Porque tanto na especialização quanto na graduação, não há um suporte maior, pra trabalho com turmas lotadas, trabalho com turmas heterogêneas em termos de conhecimento, é complicadissímo, não dá pra trabalhar não. Por isso eu falo eu não acredito no ensino de língua estrangeira na escola regular.
Eu acho que uma estrutura extra-escola, que proporciona um ensino mais sistematizado, seria não um ensino ideal, porque em termos de ideal a gente não pode falar nisso, mais seria uma ensino mais a vontade, mesmo porque eu acho até se a gente for analisar as leis que regem todo esse ensino, elas são completamente fora da realidade, não há como se realizar.
Aqui por exemplo o que a gente tem de material, a gente tem quadro e giz, não há adoção de um livro, quando a gente vai passar alguma atividade extra, que precisa ser xerocada, há uma cota para cada professor, que são mais ou menos cem cópias por professor que significa duas turmas por mês. Então fora essas duas turmas que vão receber essa tarefa ou seja duas tarefas por mês, o restante das turmas fica sem nada, fica quadro e giz, porque não tem como trabalhar. Não tem um livro pra dar suporte pra eles. Eles mesmo cobram,“ professora gente recebeu livro essa semana” eles receberam todos os livros didáticos e perguntaram: “professora não tem livro de inglês?” Não tem por isso que a gente copia tanto do quadro, infelizmente a gente copia muito e perde muito tempo com isso, uma hora poderia ser aproveitada imensamente. Então assim eu tento trazer o máximo posível de livros, de atividades de outros livros e pra não sacrifica-los eu tenho distribuir isso igualmente em termos de cópias. Um mês uma turma copia mais, no outro mês essa turma ela vai ser poupada com uma tarefa só, xerocopiada, passada no extenso, tanto faz, mas que diminui muito a qualidade e prejudica demais.