Pseudônimo: DL
Idade: 33

Sexo: feminino
Escolaridade:cursando letras-inglês-licenciatura
Tempo de aprendizagem da língua: 10 anos

 

São Paulo, 11 de outubro de 2006. 

PARTE I - ESTUDANTE

 

    Meu nome é Denise Carmen dos Santos Longo, nasci em 30 de dezembro de 1972, na cidade de São Paulo. Cresci numa família de classe-média baixa composta por – além de mim - meu pai, paulista, jornalista e dirigente do antigo Partido Comunista Brasileiro; minha mãe, mineira, professora de língua portuguesa para ensino fundamental (de 5a. a 8a. séries) em escola estadual da periferia de São Paulo; minha irmã, dois anos mais velha que eu.

    Como vêem, cresci num lar politizado e intelectualizado, o que não é muito comum no Brasil. Quero dizer que nunca tivemos dinheiro e posses, mas cultura e educação nunca faltaram em nosso lar. Esse foi o contexto sócio-econômico-cultural no qual fui criada.

    Mas o aprendizado da língua inglesa nunca foi uma preocupação de meus pais, até porque, ela representava o “imperialismo norte-americano”, ideologia combatida arduamente por toda minha família desde os tempos de meus avós anarquistas.

     Tendo estudado o nível fundamental em escola pública estadual da periferia de São Paulo (na região de classe média baixa da Penha), tive aquelas aulas de inglês nas quais (não) aprendíamos o verbo to be.

     Quando iniciei o ensino médio, fui estudar em uma boa escola pública estadual em região mais central da cidade. Lembro-me de ter tido um professor de inglês bigodudo que trabalhava em sala de aula com um material didático da metodologia comunicativa. Eu odiava aquelas aulas, porque não entendia nada... Assim como no ensino fundamental, sempre passei de ano na disciplina inglês, mas nunca simpatizei com o idioma e menos ainda aprendi alguma coisa.

     No segundo ano do ensino médio, resolvi transferir-me para outra escola estadual para cursar o Técnico em Contabilidade e por isso não tive mais a disciplina de inglês na escola. Em 1991, retomei o contato com a disciplina quando fiz cursinho pré-vestibular, mas a atenção estava voltada apenas para obter bons resultados no famigerado vestibular e acabei ingressando na Universidade de São Paulo, no curso de Ciências Sociais. Minha nota na prova de inglês: 1,7 L

    Bem, fiz todo esse percurso para contextualizar que até os 23 anos de idade, não tinha o menor interesse por inglês, tinha tido pouco contato com a língua e – declaradamente - ODIAVA tal idioma.

     Mas tudo começou a mudar quando em minhas férias (trabalhava em um banco) de agosto de 1996, comprei um pacote de viagem de sete dias para New York. A estabilidade econômica e a taxa de conversão do dólar de um para um, derrubaram qualquer preconceito meu em relação aos Estados Unidos e para lá embarquei.

     Fiz os passeios organizados pela agência de turismo, tendo contato apenas com brasileiros, mas também andei sozinha por Manhattan. Fiquei encantada com todas as diferenças e semelhanças daquela cidade com São Paulo e gostei muito da viagem.

     Mas voltei com uma grande frustração: não tinha conversado com absolutamente nenhum norte-americano e por isso, sabia que não tinha conhecido New York de verdade, pois a cultura e o povo tinham sido excluídos de minha viagem. Por isso, decidi que TINHA que aprender inglês, para nunca mais deixar de conhecer aqueles que falavam tal idioma.

     Na mesma semana em que voltei para São Paulo, comecei a pesquisar os cursos de inglês do mercado e no próprio mês de agosto iniciei o curso básico em uma escola que usa o método comunicativo. A classe tinha poucos alunos, todos da minha faixa etária na época, e o professor era muito ativo (eu o admirava por falar inglês tão rápido!). Lembro-me que ríamos muito nas aulas, mas que eu saía de lá com a nítida sensação de que não estava aprendendo nada, porque não entendia nada. Sentia-me um papagaio repetindo o que o professor mandava, mas não tinha noção alguma sobre o que estava falando.

     Fiz apenas o primeiro estágio naquela escola e transferi-me para outra, que usa o método Tradução e Gramática, depois de ter recebido recomendações de um conhecido que era professor numa de suas unidades.

     Resolvi experimentar outro método, pois estava convencida que o método comunicativo não servia para mim. Fiquei satisfeita com a nova escola, pois partindo de minha língua materna, eu entendia o que eu estava falando e via que a língua portuguesa se convertia facilmente em inglês...

    Cursei três estágios nesta última escola e já escrevia algumas pequenas redações em inglês, embora tivesse uma compreensão auditiva bem limitada e falasse pouquíssimo.

     Em 1998, eu já havia me formado em Ciências Sociais e estava cursando Pós-graduação em Marketing na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Já não trabalhava mais no banco, estava trabalhando numa micro-empresa na área de marketing e desejava participar de processos seletivos para atuar como “marketeira” em grandes empresas. Mas eu sabia que todos os processos seletivos iriam testar meus parcos conhecimentos da língua inglesa e sentia que não ter fluência no idioma inglês barraria meu crescimento profissional.

     Por curiosidade, visitei a feira de intercâmbio cultural “Study in the USA” em setembro (ou outubro?) de 1998 e ali decidi que iria fazer um curso de imersão nos EUA para acelerar meu aprendizado de inglês, pois duas horas de estudo semanais não me levariam a lugar algum. Além da motivação profissional, eu tinha disponibilidade financeira naquele momento.

     A própria diretora do Loyola Intensive English Program (LIEP) da Loyola University New Orleans estava presente na feira para divulgar o curso de imersão. Ela foi extremamente simpática comigo (embora nossa comunicação fosse truncada, pois meu inglês ainda era macarrônico...) e fez uma excelente propaganda da lendária cidade de New Orleans. E eu, que sempre amei viajar, fiquei apaixonada pela idéia e estava disposta a fazer qualquer coisa para realizar aquele objetivo.

     No intervalo de dois (ou três?) meses: conversei com meus pais, negociei as condições do curso e de moradia por e-mail, providenciei meu visto de estudante no consulado norte-americano, pedi demissão da empresa, tranquei a pós-graduação na ESPM, comprei dólares e passagem aérea, arrumei as malas, fiz festa de despedida e aos 26 anos de idade, embarquei para New Orleans em 05 de janeiro de 1999.

     Bem, a experiência que vivi no breve período de janeiro a maio de 1999 em New Orleans foi extremamente significativa e marcante para mim, tanto do ponto de vista lingüístico quanto cultural e emocional. Vou tentar resumi-la e focar apenas os aspectos que influenciaram meu aprendizado da Língua Inglesa.

     Obtive 440 pontos no TOEFL que realizei no primeiro dia de aula no LIEP e depois de uma breve entrevista, fui enquadrada na turma de High Intermediate do programa, juntamente com colegas da mesma faixa etária, de origens asiática e hispânica. Não havia nenhum brasileiro na escola inteira além de mim e o Português tornou-se, ali, uma língua morta. Eu só me comunicava em inglês – fosse com nativos ou não-nativos, embora os idiomas espanhol e japonês fossem muito falados nas rodinhas de alunos conterrâneos.

     Eu assistia aulas das 7:30 da manhã até por volta das 15:00 horas, de segunda a sexta-feira. Tínhamos aulas formais de Grammar, Reading, Writing e Conversation, mas as atividades eram muito diversificadas, desde exibição de filmes de Hitchcock até leitura de obras de Ernest Hemingway e scripts de filmes.

     Tínhamos também encontros semanais de duas horas com nosso native tutor que nos ajudava em nossas tarefas acadêmicas. Eu não gostava muito da minha tutor, pois as atividades que eu propunha, ela parecia não apreciar. Como eu não sentia dificuldades nas homeworks do curso, eu queria ler livros sobre Marketing e transcrever a letra do álbum “Evita”, de Madonna.

     Além de toda essa rotina de estudos e exposição à língua vividas na Loyola University, devo contar um pouco sobre minha vida social e familiar naquele período, que acredito ter tido uma influência ainda maior no aprendizado do idioma inglês.

    Morei numa casa onde viviam:

-        Ms. Bel, a dona da casa, de 60 e poucos anos, que tinha tido um derrame cerebral e por isso não falava (ela se comunicava conosco escrevendo bilhetes);

-        Bob, o sobrinho norte-americano da Ms. Bel;

-        Satiko, enfermeira japonesa de uns 28 anos, que fazia uma especialização em Public Health na Tulane University e falava inglês com todos aqueles problemas de pronúncia que os orientais têm para falar o idioma;

-        Mohamed, médico palestino de uns 40 anos que também se especializava na Tulane University, e falava inglês com aquele sotaque incompreensível dos árabes;

-        Marco, estudante de medicina norte-americano (filho de salvadorenhos) de 28 anos, com quem tive um relacionamento afetivo desde a primeira semana em que cheguei naquela casa.

     Descrevi todos esses detalhes do ambiente onde vivi para contextualizar o que considero ter sido um caldeirão cultural e lingüístico, ao qual estive exposta naquele período de quase cinco meses. Acredito que aquele ambiente tenha contribuído enormemente para meu aprendizado da língua, pois o inglês era o único idioma utilizado para a comunicação entre os moradores da casa.

     Sem dúvida, o relacionamento e a proximidade que tive com o Marco tiveram uma influência ainda maior em meu aprendizado da língua inglesa, pois além de ser a pessoa com quem eu passava mais tempo interagindo e conversando, ainda tinha o peso da significação afetiva da fala dele para comigo.

     Bem, minha rotina em New Orleans foi realmente de imersão na língua inglesa: eu falava português apenas trinta minutos por semana, quando conversava por telefone com meus pais nos domingos; falava e estudava (formalmente) inglês na escola; falava e estudava (formalmente) inglês em casa; e no meio do caminho, quando caminhava meia hora de casa para a escola (e vice-versa), ouvia rádios e músicas em inglês em meu walkman. Enfim, calculo que eu tenha sido exposta ao idioma inglês por volta de 1.992 horas naquele intervalo de quase cinco meses.

     Fui extremamente disciplinada e a diferença entre meu desenvolvimento e o de meus colegas hispânicos e orientais ficou explícita ao final do curso, uma vez que eles se comunicavam bastante em suas línguas maternas, ao contrário de mim.

     Ao final do curso no LIEP, obtive 530 pontos no TOEFL e já me sentia absolutamente à vontade para conversar com quem quer que fosse e as pessoas com quem eu convivia apontavam para a fluência que eu tinha adquirido.

     Em 10 de maio de 1999, voltei para São Paulo com a certeza de ter feito a melhor escolha e com a tristeza de ter que encerrar a experiência mais feliz de minha vida.

     De volta à rotina paulistana, procurei emprego por alguns meses e em novembro de 1999 fui contratada por uma grande editora, uma empresa 100% brasileira na qual eu sabia que nunca usaria meus conhecimentos de inglês. Trabalhei por cinco anos nela, nas áreas de publicidade e marketing.

     Nesse período, mantive o contato com a língua inglesa da forma que era possível: lia muitos livros que pegava emprestado da Biblioteca do British Council (li de Bill Bryson a Frank McCourt, passando por traduções para o inglês de Jules Verne e Manuel Antonio de Almeida, entre outros). Mantinha correspondência semanal com um amigo alemão que conheci pela internet. Viajava para locais que concentravam estrangeiros e hospedava-me sempre no International Hostelling.

PARTE II – PROFESSORA

     Em meados de 2002, minha relação para com o inglês mudou: através de um programa chamado “Compartilhe seu conhecimento” criado pela Universidade Corporativa da empresa para a qual trabalhava, fui convidada (pra não dizer intimada) por alguns colegas de trabalho a dar aulas para eles. Achei que não devia, por não ter experiência alguma, mas aceitei o desafio.

     Organizamos dois grupos de estudo:

-        avançado: praticávamos a leitura e interpretação de textos autênticos extraídos da internet;

-        iniciante: repassava meus conhecimentos utilizando materiais didáticos diversos.

     Era um trabalho voluntário que eu realizava no horário de almoço e que me despertou para o que parece ser minha verdadeira vocação: ser professora de inglês.

     Desde então, passei da condição de estudante para a de estudante-eterna, por acreditar que assim deve encarar-se um professor J

     Quando me desliguei da editora onde trabalhava, fui contratada por uma organização britânica, alcançando finalmente o antigo sonho de usar o idioma inglês no meu dia-a-dia de trabalho. A convivência diária com britânicos devolveu-me a fluência verbal e lá permaneci por cinco meses.

    Por motivos pessoais diversos, parei por um momento para avaliar minha carreira em marketing e descobri-me insatisfeita. Tomei, então, a decisão de dedicar-me exclusivamente ao ensino de inglês.

     Desde setembro de 2005, sou professora de inglês. Atuei por dois semestres em uma escola de idiomas franqueada e agora, sigo como autônoma, dando aulas particulares.

     Em dezembro de 2005, decidi que deveria profissionalizar-me e ingressei no curso na Licenciatura em Letras (Português-Inglês) da Universidade Cidade de São Paulo.

     Agora iniciei uma pesquisa de iniciação científica em Educação, orientada pelo Prof. Potiguara Acácio Pereira, financiada pelo CNPq, intitulada: “Dificuldades de aprendizagem dos adultos em língua inglesa”, fruto do incômodo que sinto ao ver um número infindável de adultos que tentam e não alcançam sucesso na aquisição do idioma inglês, especialmente aqueles que estudam em escolas de idiomas franqueadas.

     Talvez pela minha experiência pessoal em relação à língua inglesa, talvez pela constatação de tantos fracassos de aprendizado que tenho visto, hoje tenho certa resistência em acreditar que alguém possa ter sucesso no processo de aquisição da língua inglesa sem uma convivência real com o idioma. Estou estudando bastante (especialmente Linguística e Psicologia do Desenvolvimento  Humano) para tentar esclarecer esse mistério que se apresenta para mim.

     Continuo meu processo diário de aprendizado: aprendo ao preparar material de aula para meus alunos; ao assistir os DVDs de seriados, dos quais me tornei fã; ao ler de tudo um pouco. E acredito que minha paixão pela língua inglesa não se findará justamente porque o aprendizado dela é contínuo e ilimitado.