Nome: José Euríalo dos Reis
Idade: 39 anos
Escolaridade: 3º grau completo
Tempo de aprendizagem da língua: Difícil especificar... 14 anos, talvez, se considerarmos que comecei a estudar Inglês, como autodidata, em novembro de 1989. 

Narrativa coletada por Rafaela Oliveira em março/2004

Lembro-me que meu primeiro contato consciente com a língua inglesa aconteceu em minha infância (eu tinha uns 9 anos de idade, creio!), quando minha professora, ditando um texto, pronunciou a palavra “interrogation”, logo ao fim de uma frase em Português. Aquela era, então, para mim, uma palavra estranha e tive alguma dificuldade para escrever e entender o que ela queira dizer com aquela palavra tão diferente após uma sentença bem clara: “Acaso não posso ter cheiro de cachorro?”. Escrevi, então, após alguma hesitação, “interoguêichan” em meu caderno.

Anos depois, quando eu freqüentava a quinta série do primeiro grau, em uma escola pública, tive uma professora de Inglês meio maluca, graduada pela Universidade do Texas, cuja pronúncia não era das melhores e cujas aulas eram chatas e baseadas quase que exclusivamente em ensino de regras gramaticais. Na série seguinte, veio outra, cujas aulas eram muito divertidas, dinâmicas e interativas, uma vez que ela gostava de cantar, de recitar poesias em sala aula, de ensinar canções folclóricas e populares norte-americanas e inglesas, sempre abordando aspectos fonéticos, fonológicos e gramaticais, mas sem se descuidar de nos apontar, nos textos, traços da sociedade, da cultura, do estilo de vida de falantes nativos da língua. Mais ainda: ela sempre nos estimulava a falar Inglês, em sala de aula e fora dela.

Quando iniciei o segundo grau, tive outro professor singular: o ex-marinheiro e fazendeiro Valdomiro. Ele era muito engraçado e falante, vivera nos Estados Unidos, e creio que seu principal defeito, como professor de Inglês, era falar demais, ao invés de permitir que falássemos. Suas aulas, apesar de baseadas num pobre livro de gramática, eram divertidas, mas suas provas eram odiadas. Isso foi na primeira série; nas séries seguintes, não tivemos aulas de Inglês, porque não havia, na grade curricular vigente, naquela escola pública municipal, previsão delas num curso técnico.

Em 1989, porém, comecei a estudar Inglês como autodidata, com um livro de gramática, lendo, freqüentemente, a revista “Speak Up” e iniciando correspondência com pessoas do Brasil e do exterior (algumas delas me escrevem até hoje!), sempre em Inglês. O problema é que eu praticava somente escrita e leitura, deixando de lado as outras habilidades: fala e escuta. Isso implicou limitações, mais tarde, quando comecei a freqüentar um curso numa escola de idiomas. Um dia, a proprietária da escola (que era nossa professora) pediu que lhe falasse sobre minha relação prévia com o idioma, porque estava impressionada com minhas habilidades de escrita e compreensão, mas percebia, nitidamente, haver, comparativamente, um abismo quando consideradas minhas habilidades de fala e escuta. Falou-me, então, sobre os perigos implícitos em um processo de aprendizagem de idiomas que negligencia as quatro habilidades lingüísticas básicas e convidou-me a freqüentar as reuniões de um grupo de ex-alunos para conversação (coisa que eu não pude fazer, devido às minhas atividades profissionais). Essa conversa me foi muito reveladora (eu era tímido demais e evitava falar em sala de aula) e, anos depois, me ajudou, quando resolvi estudar Espanhol, Esperanto e Francês (pena que eu não possa dizer o mesmo quanto ao Alemão; cometi o mesmo erro que cometera quanto ao Inglês).

Posso afirmar, todavia, que eu me recordo, com muita satisfação, do meu processo de aprendizagem de idiomas e de algumas professoras. Recordo-me, com saudade, de uma professora da British School que era uma verdadeira atriz em sala de aula (creio que, de vez em quando, quando retorno à atividade docente, eu a imito), de duas excelentes professoras do saudoso ICBEU-João Monlevade (uma, norte-americana, sempre bem-humorada, mas exigente, com suas freqüentes “redações-surpresa de 5 minutos” —que ela corrigia cuidadosamente e sempre selecionava uma para o jornalzinho da escola—, de suas sessões de cinema e de nossas eventuais atividades ao ar livre, aos sábados; outra, brasileira, diretora da escola, impagável) e da Profª Judy Hardacre, do ICBEU-BH. Lembro-me, também, de um professor norte-americano, jovem, um “ai-Jesus” das colegas, que, apesar de seu título de mestrado em ensino de Inglês, era uma negação (cometia graves erros gramaticais e não tinha didática aceitável) —desanimado com suas péssimas aulas, cheguei a pagar um semestre letivo de aulas, freqüentar apenas cinco delas (a diretora chegou a pensar em me devolver parte das mensalidades) e voltar à escola apenas nos dias de provas (uma colega fez o mesmo!).

Hoje, com alguns certificados internacionais (de Cambridge, Michigan e Oxford), ainda reconheço ser claudicante meu Inglês, estou um pouco afastado das lides didáticas (não tenho trabalhado, salvo em casos emergenciais, como professor), mas percebo que minha trajetória foi muito rica. Mesmo sendo velho, aluno de outros tempos, percebo que, de certa forma, a tão propalada (e às vezes não aplicada) Abordagem Comunicativa esteve presente em meu processo de aprendizagem e acredito, mais do que nunca, que esse processo é contínuo e que o(a) professor(a) é elemento fundamental, nem tanto para ensinar regras da língua, para apontar erros ou acertos (apesar de eu considerar isso essencial!), mas para nos despertar para o prazer do aprendizado, para que possamos prosseguir aprendendo sempre, com ou sem um ensino formal, posto que somos, sobretudo, seres de linguagem. Penso que aí está a mais-valia desse profissional!