CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico

Projeto de Pesquisa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMFALE – Aprendendo com Metáforas de falantes e aprendizes de línguas estrangeiras

 

Equipe: Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva

               Bolsistas de Iniciação Científica

               Mestrandos

               Doutorandos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva

 

 

 

 

Belo Horizonte, 25 de julho de 2007.

1. Contextualização

 

Aprendendo com Metáforas de Falantes e Aprendizes de Língua Estrangeiras (AMFALE) dá prosseguimento a uma série de investigações sobre aquisição de línguas estrangeiras, tendo como evidências empíricas narrativas de falantes e de aprendizes de língua estrangeiras. A sigla AMFALE nomeia um projeto guarda-chuva – Aprendendo com Memórias de Falantes e Aprendizes de Língua Estrangeiras (ver http://www.veramenezes.com/amfale.htm) – que inclui um conjunto de pesquisadores brasileiros e colaboradores da Finlândia e do Japão.

Mantendo a mesma sigla, investiguei, primeiramente, a Autonomia em Memórias de Falantes e Aprendizes de Língua Estrangeiras (PAIVA, 2005b, 2005c e 2006a) e encontra-se em fase de conclusão o projeto Aquisição em Memórias de Falantes e Aprendizes de Língua Estrangeiras, cujo objetivo principal é construir um modelo teórico de aquisição de língua estrangeira com suporte da teoria dos sistemas complexos, da teoria do caos (PAIVA, 2005a), de um conjunto de teorias de aquisição e de evidências empíricas  em narrativas de aprendizagem (PAIVA, 2006b, 2006c; 2007; e 2008, no prelo). Esse projeto fez uma revisão do Modelo fractal de aquisição de línguas, desenvolvido para o meu concurso de professora titular (PAIVA, 2002) e depois publicado em Paiva (2005a). Com o acréscimo de evidências empíricas, o modelo passa a contemplar as vozes dos aprendizes para tentarmos entender como acontece o processo de aquisição.

O projeto AMFALE possui um corpus com cerca de 600 narrativas, em forma de texto, áudio e multimídia (http://www.veramenezes.com/narrativas.htm), coletadas no Brasil por diversos pesquisadores; 131 narrativas em texto, coletadas por Tim Murphey (http://www.veramenezes.com/nar_tim.htm), nosso parceiro na Universidade de Dokkyo, no Japão; e 21, também em texto, coletadas na Finlândia (http://www.veramenezes.com/nar_finlandia_intro.htm) pelas parceiras do projeto ALMS (Autonomous Language Learning Modules), na Universidade de Helsinki.

 

1.    Caracterização do problema

 

A partir de 2006, começamos a coletar narrativas em formato multimídia de alunos do curso de Letras da UFMG. Esses textos foram produzidos como parte das atividades de letramento digital em disciplinas voltadas para a formação do professor. No momento, o corpus conta com 37 narrativas multimídia em língua inglesa e deve ser ampliado ao longo do projeto, que ora proponho, com textos também em língua portuguesa sobre aprendizagem de outras línguas.

A atividade narrativa é, por natureza, multimodal e multisensorial e, como lembra Feldman (2006, p.336), “a linguagem é inseparável do pensamento e da experiência”. Pense, por exemplo, em alguém que volta de uma viagem a Buenos Aires e que narra para parentes e amigos as experiências vividas em sua viagem. Essa pessoa usa a voz para verbalizar suas experiências na viagem, movimenta os músculos do rosto, gesticula com as mãos, sorri, mostra fotos, um vídeo feito no celular ou com uma filmadora, coloca um cd de tango para tocar, mostra um folder de uma casa de tango e recorda-se do cheiro dos restaurantes em Puerto Madeira. Muitos sentidos são ativados, tanto por quem produz como por quem é exposto a esses modos narrativos, e muitos significados emergem da interação entre os vários modos de narrar.

Foi pensando na natureza multimodal da experiência humana e da linguagem que resolvi contribuir para a emergência de um novo gênero, a narrativa de aprendizagem multimídia (Paiva, 2007, no prelo), pois as tecnologias digitais oferecem ferramentas que aproximam o produtor de textos dessa natureza multisensorial da produção de sentidos.

Com a inclusão de narrativas multimídia no corpus do projeto AMFALE, passei a observar que as escolhas das imagens (por exemplo, as representações de alunos e professores) são coerentes com as descrições textuais, mas não funcionam apenas como meras ilustrações daqueles textos. Percebi que imagens e sons (1) funcionam como construtores de espaços mentais discursivos, (2) metaforizavam as experiências vividas e (3) fazem emergir redes de significados¸ envolvendo espaços mentais que integram eventos em mesclagens conceituais (FAUCONNIER e TURNER, 2002).

Surgiu, então, o interesse de investigar o processo de construção de narrativas multimídia, com ênfase nas mesclagens conceituais, e nas metáforas que descrevem a complexidade das experiências de aprendizagem e de seus atores, especialmente, a escola, os aprendizes e os professores.

2.    Suporte teórico:

 

3.1. Integração conceitual e complexidade

Quando se conta uma história de aprendizagem de língua estrangeira, os narradores entrecruzam memórias da escola com memórias de relações familiares e de outros contextos sociais (viagens, por exemplo) e revelam uma profícua mediação de artefatos culturais: música, cinema, televisão, literatura, jogos eletrônicos, revistas, etc. Ao construir essa mesma narrativa em formato multimídia, os narradores dispõem de mais recursos para registrar seus processos cognitivos, inserindo, no texto, imagens e hiperlinks para outros textos escritos e sonoros e outros recursos em áudio como, por exemplo, aplausos, riso, choro, etc.. Assim, texto e hipertexto são entendidos, nesse projeto, de acordo com Paiva e Nascimento (2006, p. 177-8),  como

(...) uma propriedade da mente que constrói e reconstrói sentidos através do acionamento de outros textos, (re)configura o conceito de (con)texto que passa a ser entendido com uma propriedade emergente de um sistema textual adaptativo complexo e não como algo exterior ao processo,

 

Ao produzir uma narrativa de aprendizagem multimídia, o narrador não apenas conta sua história, mas, através de recursos de hipertextos, imagem e som, agrega novas dimensões de sentido, projetando sentimentos e construções metafóricas sobre experiências de aprendizagem, professores e contextos educacionais. Vários espaços mentais, definidos por Fauconnier e Turner (2002, p. 40) como pequenos pacotes conceituais, são construídos e interligados em redes de integração conceituais;

O texto, assim construído, deixa mais evidentes as características da produção textual como um sistema complexo dinâmico e adaptativo onde interagem atores sociais (produtor, leitor, comunidade discursiva, cultura) e sistema lingüístico em suas dimensões cognitivas, estruturais e discursivas, fazendo emergir sentidos.

A teoria da integração conceitual parece ser compatível com a teoria da complexidade, pois contempla o conceito de emergência, fruto das conexões entre os elementos do sistema. Nas palavras de Fauconnier, “[P]ara os espaços mentais em particular, precisamos ter conexões múltiplas entre espaços  mentais, e também precisamos ter estruturas emergentes surgindo dessas múltiplas ligações” (in COSCARELLI, 2005, p.295).

Os sistemas complexos agregam vários elementos em uma rede de ligações, de forma não-linear. Segundo Holland (1997), uma das propriedades do sistema complexo, que ele denomina de blocos constituintes, é a capacidade que o ser humano possui de decompor uma cena complexa e de usar e reusar uma variedade de combinações. Os blocos constituintes se assemelham ao conceito de mesclagem, definido por Fauconnier (2005, p.292) como “a capacidade de agrupar diversos espaços mentais e, a partir desse agrupamento, criar novos espaços mentais que possuem uma estrutura emergente”.

As narrativas de aprendizagem multimídia integram espaços enunciativos textuais, sonoros e imagéticos em redes de significados permeadas por mapeamentos metafóricos (Lakoff e Johnson, 1980).

3.2. As metáforas

A teoria conceptual da metáfora, desenvolvida por Lakoff e Johnson (1980) defende que a metáfora não é uma mera questão da linguagem. Eles comprovam que nosso sistema conceitual é metafórico e que as metáforas nos ajudam a construir e avaliar a realidade.  Eles comparam as metáforas aos nossos sentidos afirmando que “é como se a habilidade de compreender a experiência por meio da metáfora fosse um sentido, como a visão, ou o tato, ou audição, com metáforas fornecendo as únicas formas de se perceber e experienciar muita coisa do mundo[1]”. (LAKOFF e JOHNSON, 1980, p. 239).

As metáforas também podem ser compreendidas dentro da perspectiva dos sistemas complexos. Cameron e Deignam (2006, p.674) afirmam que a metáfora sempre foi entendida como dinâmica e adaptativa, de Aristóteles até a Fauconnier e Turner (2002), pois “uma metáfora é vista como algo que reúne duas idéias diferentes que interagem e se adaptam à mente para produzir algo novo, emergente, maior do que a soma das partes[2]”.

Vários pesquisadores em lingüística aplicada, como Ellis, 2001; Oxford, 2001; e Mello e Mello (2003), para citar apenas alguns, têm utilizando a teoria cognitiva da metáfora para explicar como os pesquisadores e aprendizes conceituam aprendizagem de línguas e como constroem, metaforicamente, o conceito de aprendiz e de professor de línguas.

Ellis (2001), após examinar nove artigos de pesquisadores de orientações teóricas diferentes, pesquisadores que ele considera bastante representativos na área de lingüística aplicada, concluiu que as metáforas mais usadas para conceituar aprendizes de línguas são: aprendiz como recipiente, máquina, negociador, solucionador de problemas, construtor, lutador e investidor. O autor investigou também como os aprendizes se construíam metaforicamente, usando diários de 6 aprendizes adultos de alemão em Londres. Ellis identificou as seguintes metáforas: aprendiz como sofredor, solucionador de problemas, viajante, lutador, e trabalhador. Ao comparar os dois estudos, verificou que as metáforas dominantes entre os pesquisadores eram de aprendiz como recipiente e como máquina enquanto, para os aprendizes, eram as de aprendiz como sofredor, solucionador de problemas e viajante.  Verificou ainda que havia duas metáforas em comum nos dois corpora: aprendiz como solucionador de problemas e como sofredor, essa última usada por uma pesquisadora apenas. “Aprendiz como negociador” foi usada apenas pelos pesquisadores e “como viajante” apenas pelos alunos.

Essas diferenças, segundo Ellis (2001), apontam para a necessidade de se dar mais voz aos aprendizes e de se levar em consideração a forma como eles conceituam a aprendizagem de línguas.

Oxford (2001) investigou as construções metafóricas de 473 narrativas de aprendizes de diversas nacionalidades. A maioria dessas narrativas descrevia professores de quem os narradores gostavam ou não. Oxford dividiu seus resultados em três metáforas que representam abordagens de ensino: autocrática, democrática/participatória, e laissez-faire. No grupo do ensino autocrático, incluiu metáforas de professores como tiranos, juízes, etc.; no democrático/participatório, encontramos o professor como desafiador, provedor, animador, etc. No terceiro grupo, o laissez-faire, temos o professor visto como o ausente, babá, cego, etc.

Oxford observou que as metáforas variavam de cultura para cultura. No corpus americano, por exemplo, ela encontrou metáforas do professor como babysitter ruim ou como fofoqueiro. Entre os gregos, ela identificou: professor como membro da família, como profeta ou como presente de Deus. Isso, segundo Oxford (2001, p. 99), “reflete valores culturais gerais sobre família e religião”.

Mello e Mello (2003) analisaram metáforas produzidas por três professores de língua inglesa do ensino básico no Brasil e encontraram as seguintes construções; professor como diretor, policial, bom camarada, mediador, aprendiz, jogador, animador, andaime, humanista, etc. elas concluíram que cada um desses três professores concebe “o que é professor”, usando metáforas bastante distintas.

4. Objetivos

4.1. Objetivo geral

Investigar, mediante evidências empíricas do corpus de narrativas multimídia do projeto AMFALE, as construções metafóricas e as operações de integração de redes de espaços mentais responsáveis pela produção de sentido de textos multimídia sobre experiências de aprendizagem e refletir sobre o processo de emergência[3] de outra língua[4].

4.2. Objetivos específicos

1.    Identificar e descrever as construções metafóricas mais recorrentes sobre a aprendizagem de línguas, a escola, o aprendiz, e o professor, em narrativas multimídia de aprendizagem;

2.    Identificar e descrever integrações de redes de espaços mentais em narrativas multimídia de aprendizagem que, por sua natureza, envolvem textos, hipertextos, imagens e recursos sonoros;

3.    Descrever a complexidade da narrativa multimídia;

4.    Refletir sobre a emergência de outra língua, a partir das construções metafóricas e das integrações conceituais em narrativas multimídia.

 4.3. Metas a serem alcançadas

 

1. Uma das metas a ser alcançada é a ampliação do corpus do projeto AMFALE de modo a oferecer à comunidade de pesquisadores, em especial aos colaboradores do projeto AMFALE, exemplares de um novo gênero textual, a narrativa multimídia de aprendizagem de línguas. Tenho como meta reunir, pelo menos 20 narrativas por semestre do projeto, e disponibilizá-las na web. Esse número parece modesto, mas a coleta desse tipo de texto depende da oferta de disciplina sobre letramento digital. Além disso, necessitamos de autorização dos autores para publicação e utilização de seus textos para pesquisa.

Espero, também, aumentar, significativamente, as narrativas em áudio e texto, com as contribuições que chegam espontaneamente por email, com a contribuição dos outros pesquisadores, e com os dados coletados no desenvolvimento dos projetos dos alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado.

2. Paralelamente, ao investigar sobre a produção desse novo gênero, espero contribuir com a formação acadêmica e docente de meus orientandos de iniciação científica, mestrado e doutorado, além de ampliar meus próprios conhecimentos sobre o texto multimídia e de usar esses conhecimentos em minhas atividades de ensino.

3. Outra meta é ampliação da interação com pesquisadores nacionais e internacionais. Os pesquisadores do Grupo AMFALE têm apresentado simpósios e comunicações coordenadas em eventos brasileiros. A interação com pesquisadores internacionais tem por meta dar maior visibilidade à pesquisa brasileira. Algumas iniciativas já estão em andamento. Uma delas é o projeto de edição de um livro – Narratives of Learning and Teaching EFL – em co-edição com Paula Kalaya, da Universidade de Helsink da Finlândia e de Ana Maria Barcelos, da Universidade Federal de Viçosa. Esse livro será publicado pela editora Palgrave, em 2008, e conta com capítulos de colaboradores do projeto AMFALE (Ana Maria Barcelos, Deise Prina, Heliana Mello, Laura Miccoli e Vera Menezes) e de pesquisadores na Europa (David Block, Riikka Alanen, Anne Pitkänen-Huhta, Hannele Dufva, Tarja Nikula, Leena Karlsson e Paula Kalaja) e na Ásia (Keiko Sakui, Neil Cowie, Tim Murphey, Christopher Carpenter, Garold Murray, Sara Cotterall, Phil Benson e Alice Chik).

A outra iniciativa é a criação de um grupo de trabalho Internacional. Em maio de 2007, coordenei a visita de Phil Benson à UFMG, após sua participação em evento na PUCSP. Benson ministrou um curso de 15 horas para os alunos da pós-graduação e bolsistas de IC sobre pesquisa narrativa. Em junho de 2007, trouxemos ao Brasil os pesquisadores Tim Murphey, da Universidade de Dokyo, Japão, e David Block, da Universidade de Londres, como palestrantes do I Congresso Internacional da Associação Brasileira de Professores Universitários de Inglês (ABRAPUI). Durante a estada dos três, iniciamos entendimentos para formarmos um grupo de pesquisa internacional. Phil Benson está articulando a criação de uma lista de discussão para troca de informações e desenvolvimento de projetos em conjunto. Pretendo estreitar relações com esse grupo com vistas a ampliar a produção internacional do projeto, contribuir para a visibilidade internacional do corpus AMFALE, desenvolver projetos em conjunto com pesquisadores internacionais e participar de publicações internacionais.

4. Em 2008, como editora chefe da Revista Brasileira de Lingüística Aplicada (RBLA), coordenarei a edição de um número especial sobre pesquisa narrativa e pretendo atrair pesquisadores internacionais para esse número da revista, honrando assim sua avaliação como Qualis A.

5. Pretendo participar, individualmente ou com o grupo AMFALE, de eventos nacionais e internacionais. Fui convidada para ser uma das palestrantes do III WorldCall Conference, um congresso sobre o ensino de línguas mediado por computador, que se realizara em Fukuoka no Japão, no início de agosto de 2008. Na ocasião, pretendo falar sobre a pesquisa com textos multimídia. No final do mesmo mês, com meu grupo de doutorandos trabalhando com aquisição de línguas dentro da perspectiva dos sistemas complexos, apresentaremos, caso nossa proposta seja aceita, um simpósio que terá como debatedora a Dra. Larsen-Freeman, e que contará com a participação de Claire Kramsch e Lynne Cameron.

6. Em cada ano do projeto, pretendo escrever, pelo menos, dois artigos ou capítulos de livros, oferecer seminários sobre o tema no programa de pós-gradação em Estudos Lingüísticos e, também, na graduação em Letras da UFMG.

7. Ao final do projeto pretendo organizar um livro em conjunto com membros do projeto AMFALE.

8. Finalmente, pretendo desenvolver parte deste projeto em estágio de pós-doutorado, aprofundando o estudo sobre a teoria da integração conceitual, com a orientação do Dr. Milton do Nascimento da PUC-Minas. Esse estágio dá prosseguimento a uma colaboração, iniciada em 2006, com a publicação do capítulo de livro Texto, hipertexto e a (re)configuração de (con)textos (in Lara, 2006). Nesse texto produzimos uma primeira proposta para a compreensão do texto como sistema complexo, fazendo uma interação entre a teoria dos sistemas complexos, como descrita por Holland (1997) e a teoria da integração conceitual desenvolvida por Fauconnier e Turner (2002). Pretendo expandir esse estudo para os textos multimídia e produzir um segundo artigo em co-autoria com o pesquisador da PUC-Minas.

5. Metodologia

Esta pesquisa se insere no paradigma qualitativo. É uma pesquisa documental interpretativa.

A metodologia inclui levantamento bibliográfico sobre os seguintes temas: linguagem e sistemas complexos; integração conceitual, metáforas, hipertexto e multimodalidade.

A investigação empírica utilizará um corpus de narrativas multimídia cuja coleta se iniciou em 2006 e que será ampliado ao longo do projeto. As narrativas já coletadas podem ser lidas na página do projeto no link: http://www.veramenezes.com/narmulti.htm. As novas narrativas serão também publicadas na Internet, após a devida autorização de seus autores.

Clandinin e Connelly (1990, p.2) afirmam que “os seres humanos são organismos produtores de histórias que individualmente ou coletivamente têm suas vidas conduzidas por histórias. Assim, o estudo da narrativa é o estudo da forma como os humanos experienciam o mundo”.  As narrativas são construções da realidade em que seus produtores, de acordo com sua interpretação de experiências desordenadas, tentam criar uma ordem ao construir sua história.

A pesquisa com narrativas é um processo de coleta de informações através de relatos na primeira pessoa que incluem experiências concretas, emoções e avaliações de forma a criar um contexto complexo que pode contribuir para a percepção do pesquisador sobre o fenômeno que está sendo investigado.

Seguindo Bell (2000, p.207), a investigação por meio de narrativas se baseia em pressupostos epistemológicos da produção de sentido por seres humanos a partir de experiências aleatórias. O pesquisador seleciona os elementos da experiência nos quais tem interesse e os categoriza de forma a refletir os conceitos e crenças subjacentes à narrativa.

Clandinin e Connely (2000) consideram as narrativas um espaço de pesquisa tridimensional, pois, através delas, podemos estudar as dimensões (1) temporal, (2) espacial e (3) pessoal e social. A essas categorias, considero produtivo acrescentar uma quarta dimensão, a tecnológica, que compreende os artefatos culturais mediadores da aprendizagem.

A metodologia de coleta e de análise de metáforas é uma adaptação de Koch e Deetz[5] (1981), citada por Ellis (2002, p.70), em seu estudo sobre metáforas. Após, o isolamento de um corpus representativo de narrativas multimídia, eles sugerem

·         Isolar as construções metafóricas nos textos e listá-las;

·         Decidir quais serão as metáforas a serem analisadas de acordo com os objetivos da pesquisa;

·         Identificar os domínios fonte e alvo[6] das expressões metafóricas;

·         Agrupar as metáforas em grupos coerentes, estabelecendo quais são as metáforas mais recorrentes no corpus.

 

Para o estudo das integrações de espaços mentais, adotarei os seguintes passos:

 

·         Isolar trechos que retratem as dimensões (1) temporal, (2) espacial, (3) pessoal e social; e (4) tecnológica.

·         Identificar nesses trechos exemplos de integrações de espaços mentais nos textos e listá-los;

·         Decidir quais serão os exemplos a serem analisados de acordo com os objetivos da pesquisa;

·         Agrupar as integrações conceituais em grupos coerentes, estabelecendo quais são as mais recorrentes no corpus.

 

Os resultados desses estudos serão, posteriormente, utilizados para refletirmos sobre a emergência de outra língua, contribuindo de forma teórica para os estudos em aquisição de segunda língua.

Além dessas ações, me responsabilizarei pela manutenção e atualização do banco de dados e da página do projeto AMFALE.

6.    Resultados e Impactos esperados

 

Indicadores de Progresso ao final de cada 6 meses de projeto:

 

1. Divulgação dos resultados obtidos em eventos nacionais e internacionais.

2. Publicações em periódicos e capítulos de livros.

 

Indicadores de resultados ao final do projeto:

 

·         Publicação de, pelo menos, 6 artigos

·         Participado em, pelo menos, 6 eventos nacionais e dois internacionais.

·         Edição de número temático sobre pesquisa narrativa da Revista Brasileira de Lingüística Aplicada

·         Edição de um livro

 

Repercussão e/ou impactos dos resultados:

 

Evidentemente, os resultados contribuirão para a consolidação do grupo AMFALE no cenário nacional e internacional. Espero, também, despertar o interesse de pós-graduandos e alunos da graduação para a pesquisa narrativa.

7.    Cronograma

 

 Ações/2008

Jan.

Fev.

mar.

abr.

mai

jun.

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set.

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Coleta de narrativas

 

 

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Manutenção da homepage do projeto

 

 

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Orientação de mestrandos, de doutorandos, e de bolsistas de IC.

 

 

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Seleção e revisão bibliográfica sobre integração conceitual e complexidade.

 

 

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Estágio pós-doc com o Dr. Milton Nascimento na PUC-Minas.

 

 

 

 

 

 

 

 

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X

Análise preliminar do corpus

 

 

 

 

 

 

 

 

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 Ações/2008

Jan.

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Produção dois artigos, sendo 1, em co-autoria com o Dr. Milton do Nascimento

 

 

 

 

 

 

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Participação no III WorldCALL, no Japão, como palestrante convidada.

 

 

 

 

 

 

 

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Apresentação de trabalho sobre aquisição e complexidade no Congresso da AILA

 

 

 

 

 

 

 

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Editoração do número especial da RBLA.

 

 

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Ações/2009

jan.

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out.

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dez.

Coleta de narrativas

 

 

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Manutenção da homepage do projeto

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Orientação de mestrandos, de doutorandos, e de bolsistas de IC.

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Seleção e revisão bibliográfica sobre metáforas e complexidade

 

 

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Estágio pós-doc com o Dr. Milton Nascimento na PUC-Minas

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Redação final do artigo em co-autoria com o Dr. Milton do Nascimento

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Segunda análise dos dados

 

 

 

 

 

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Produção de dois artigos sobre metáforas nas narrativas multimídia.

 

 

 

 

 

 

 

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Ações/2010

jan.

fev.

mar.

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jun.

jul

ago.

set.

out.

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dez.

Coleta de narrativas

 

 

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Manutenção da homepage

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Ações/2010

jan.

fev.

mar.

abr.

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jun.

jul

ago.

set.

out.

nov.

dez.

Orientação de mestrandos, de doutorandos, e de bolsistas de IC.

 

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Seleção e revisão bibliográfica sobre hipertextualidade e multimodalidade.

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Análise de narrativas

 

 

 

 

 

 

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Produção de 2 artigos/capítulos e organização de um livro

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Ações/2011

jan.

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set.

out.

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dez.

Redação do relatório final

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Além dessas atividades, os resultados serão apresentados em eventos acadêmicos a serem programados.

 

8. Aspectos Éticos

O projeto AMFALE foi submetido ao Comitê de Ética da UFMG. Todas as narrativas coletadas pelo projeto AMFALE só são publicadas no site e utilizadas nas pesquisas do grupo, após a assinatura de termo de consentimento esclarecido ou de envio de email dos narradores, autorizando a publicação e a utilização de suas histórias de aprendizagem para pesquisa. Aos narradores é dada a opção de uso de pseudônimos, mas a maioria dos colaboradores prefere usar o próprio nome. Antes da publicação das narrativas, temos o cuidado de editar alguns trechos retirando identificação de pessoas e/ou instituições cujas faces possam ser ameaçadas por alguma afirmação ou valoração dos narradores. As análises não fazem juízo de valor sobre as atitudes, sentimentos ou sobre ações empreendidas pelos narradores.

 

 

8.    Referências Bibliográficas

 

BELL, J.S. Narrative inquiry: more than just telling stories. TESOL Quartely. vol. 36, n. 2. p.207-212, 2002.

 

CAMERON, L.; DEIGNAM, A. The emergence of metaphor in discourse. Applied Linguistics. N.27, v. 4., p. 671-690, 2006

 

COSCARELLI, C. Entrevista: uma conversa com Gilles Fauconnier. Revista Brasileira de Lingüística Aplicada,v.5,n.2. p.291-303,  2005.

 

ELLIS, R. The metaphorical constructions of second language learners. In Learner contributions to language learning: new directions in research. Harlow, Essex, 2001. p. 65-85

 

FAUCONNIER, G. e TURNER, M. The way we think: conceptual blending and the mind’s hidden complexities. New York, Basic Books, 2002

 

HOLLAND, J. H. Ordem oculta; como a adaptação origina a complexidade. rad. José Luiz Malaquias. Lisboa: Gradiva, 1997.

 

LAKOFF, G.;JOHNSON, M. Metaphors we live by, Chicago: The University of Chicago,  1980.

 

MELLO, H.R..; MELLO, A.C. Metaphors in EFL teachers’ discourse. In: GIMENEZ, T. (Org.). Ensinando e aprendendo inglês na universidade: formação de professores em tempo de mudança. Londrina, ABRAPUI, 2003.

 

OXFORD, R. ‘The bleached bones of a story’: learners’ constructions of language teachers. In Learner contributions to language learning: new directions in research. Harlow, Essex, 2001. p.86-111

 

PAIVA, V.L.M.O. Caleidoscópio: fractais de uma oficina de ensino aprendizagem. Memorial apresentado para concurso de Professor Titular na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais.2002.

 

______________.Modelo fractal de aquisição de línguas  In: BRUNO, F.C. (Org.) Reflexão e Prática em ensino/aprendizagem de língua estrangeira. São Paulo: Editora Clara Luz, 2005a. p. 23-36

 

______________.Autonomy in second language acquisiton . SHARE: An Electronic Magazine by Omar Villarreal and Marina Kirac N. 146, ano 6, May 6th 2005b.

 

______________. Autonomia e complexidade: uma análise de narrativas de aprendizagem. In: FREIRE, M.M; ABRAHÃO, M.H.V; BARCELOS, A.M.F (Orgs.). Lingüística Aplicada e Contemporaneidade.  Campinas e São Paulo: Pontes e ALAB, 2005c. p.135-153.

 

______________.Autonomia e complexidade. Linguagem e Ensino, vol.9, n.1, pp. 77-127, 2006a.

 

______________.Memórias de aprendizagem de professores de língua inglesa. Contexturas, n. 9, p.63-78, 2006b.

 

______________.Online teacher training and multimidia narratives . Essential Teacher,  volume 3, Issue 4, December 2006c.

 

______________; NASCIMENTO, Milton. Texto, hipertexto e a (re)configuração de (con)textos. In: LARA, G.M.P. Lingua(gem). texto, discurso: entre a reflexão e a prática. Belo Horizonte: Lucerna, 2006. p.155-179

 

______________.Linguagem, gênero e aprendizagem de língua inglesa. In ALVAREZ, M.L.O; SILVA, K.A. Lingüística aplicada: múltiplos olhares. Brasília: UnB/Finatec; Campinas: Pontes Editores, 2007.

 

______________.  Narrativas Multimídia de aprendizagem de língua inglesa: um gênero emergente , 2007, no prelo (Trabalho a ser apresentado no SIGET, em agosto de 2007)

 

______________.Multimedia language learning histories , capítulo do livro Narratives of Learning and Teaching EFL a ser publicado pela Palgrave em 2008. (no prelo)



[1] Minha tradução de ”It is as though the ability to comprehend experience through metaphor  were a sense, like seeing or touching or hearing, with metaphors providing the only ways to perceive and experience much of the world”

[2] Minha tradução de “a single metaphor is seen as bringing together two unlike ideas that interact and co-adapt in the mind to produce something new, emergent, greater than the sum of the parts”.

 

[3] Estou usando “emergência” em substituição à metáfora “aquisição”, por considerar que emergência é uma construção metafórica mais coerente com a perspectiva da complexidade.

[4] Estou usando “outra língua” em substituição a língua estrangeira ou segunda língua.

[5] KOCH, S; DEETZ, S. Metaphor analysis of social reality in organizations. Journal of Applied Communication Research. V. 9. p.1-15, 1981.

[6] Domínio fonte é o domínio conceitual de onde derivam as expressões metafóricas e domínio alvo é o domínio conceitual que tentamos compreender.