Nome: Noemy Alcanfôr Rosa Gontijo
Escolaridade: Mestranda em Lingüística Aplicada
Idade: 39 anos
Profissão: Professora Universitária
Tempo de aprendizagem da língua: 28 anos  
Narrativa coletada por Francisco Figueiredo
 
           
Comecei a aprender inglês aos 11 anos, quando ingressei na quinta série (2ª fase do ensino fundamental),na época, conhecido como ginásio. Anteriormente, durante a 1ª fase do ensino fundamental, não havia tido nenhum contato com a língua inglesa, a não ser palavras soltas vistas em filmes ou produtos importados. Um fato muito engraçado dessa época me vem à memória de vez em quando.Cursei o primário no Instituto Araguaia, em Goiânia, e gostava de conversar com algumas colegas. Uma delas sempre dizia que para se falar inglês bastava falar português de traz pra frente. Ao tentar aplicar essa regra com a palavra “goodbye”, uma das palavra que conhecia do idioma inglês, descobri rapidamente que essa colega não sabia o que estava afirmando. Acredito que meu desejo de aprender inglês pode ter surgido nesta primeira descoberta de que a coisa não era lá tão simples.
Quando terminei o primário e fui estudar no Colégio Ateneu Dom Bosco, que pertencia à igreja Católica, também resolvi aprender inglês em um curso livre. Este curso é um centro binacional chamado CCBEU, no qual leciono desde 1988. Eu tinha, então, 11 anos e optei por um curso livre porque os meus irmãos mais velhos já haviam feito a mesma escolha. Todos em casa acreditavam e acreditam que só se aprende inglês em escolas particulares de inglês. Todos ainda acham que inglês de escola é só pra inglês ver.
Minha experiência estudando inglês na escola e no curso livre só reforçou a crença da minha família. Em um curto período de tempo, dominava algumas estruturas como o verbo to be, o presente simples, o passado simples e possuía vocabulário relativo a alguns tópicos. Em suma, o que eu aprendia no curso livre superava o conteúdo visto na escola. A minha motivação em relação ao inglês do colégio diminuía a cada dia porque a pronúncia dos meus professores de lá era bem inferior a minha. Eu via a aula de inglês como a aula de descanso. Todavia, durante o ginásio, usei um material desenvolvido pelo CCAA ( curso livre de inglês nacionalmente conhecido). Este material continha textos sobre diferentes assuntos e tive um pouco de dificuldade com o vocabulário. Ainda hoje, me recordo de uma texto sobre “anti-theft devices” cujo vocabulário era muito difícil. Fui obrigada a consultar o dicionário várias vezes para entender este texto. Apesar disso, não me senti desestimulada e continuei a acreditar no meu potencial. Mas, comecei a achar que o meu professor talvez tivesse algo novo pra ensinar.
            Enquanto freqüentava o cursinho de inglês e estudava inglês no colégio, ouvia as músicas de uma banda inglesa chamada Queen. Por gostar muito das músicas e também a pedido de amigos, costumava decorar e traduzir as letras. Havia uma música que tinha a seguinte expressão idiomática: “another one bites the dust”, e eu consultei vários dicionários para descobrir o significado dessa expressão. Quando finalmente achei a tradução, me senti muito bem e a minha motivação pra continuar memorizando letras e traduzindo as expressões que desconhecia aumentou. Tenho convicção de que isso possibilitou um aumento no meu vocabulário e a minha fluência melhorou.
            Após o ginásio, escolhi estudar no Colégio Objetivo onde fiz o primeiro ano. Antes de iniciar o segundo ano, a minha irmã mais velha se mudou para os EUA. Ela pediu aos meus pais pra deixar que eu fosse junto com ela , seu marido e filhos. Eu tinha 17 anos e  já havia feito os 10 semestres do curso básico no CCBEU. Meus pais acharam uma boa idéia e fomos morar em Chicago, eu, minha irmã, meu cunhado e três sobrinhos.
            Assim que chegamos, fomos pra casa que havia sido alugada por uns amigos americanos do meu cunhado. Dentre os amigos dele, havia a Frances Vergne, uma senhora muito gentil que nos ajudou com os detalhes da mudança. Frances nos buscou no aeroporto e nos levou para a casa onde iríamos morar. No caminho do aeroporto, comecei a conversar com ela e pude me expressar com muita facilidade. Frances ficou muito surpresa com o meu inglês e disse que não imaginava que eu fosse capaz de tanto. Eu podia dizer muita coisa, mas não entendia tudo que ouvia. Entender o que ouvia foi um grande desafio que se tornou menor à medida em que o tempo foi passando.
            As minhas conversas com adultos eram um grande prazer. Eles elogiavam meu inglês o tempo todo. Pena que não acontecia o mesmo quando conversava com as crianças e os adolescentes nativos. Eles sempre me corrigiam sem piedade, e na frente de quem estivesse por perto. Uma vez, disse: “I lost way” quando queria dizer “I’ve lost weight”. Todos os presentes riram a valer e eu me senti muito embaraçada. Conseqüentemente, ficava mais tensa quando ia conversar com os de minha idade. Um garoto que conheci nas aulas de geografia me disse: “You sound like a book talking”. Ele achava meu inglês tão certinho que parecia um livro com som.
            Havia uma garota de uns 3 anos que morava bem perto da casa onde morava. Um dia, a mãe dela me pediu para olhá-la enquanto ia ao médico. Nem pensei duas vezes e fui. Acho que a frase: “It’s not like that” nunca mais saiu da minha memória. Foi a única coisa que a garotinha falava toda vez em que eu abria a boca. Foi um pouco frustrante mas, por $5 a hora, considerei até justo. A pequena professora Amy dava dicas preciosas e eu ainda era paga pra isso.
            Curiosamente, continuei a me arriscar e depois dos primeiros dois meses já estava mais à vontade.Uma tática bem eficiente que usei foi assistir novelas. Foi fácil acompanhar porque a trama fica óbvia depois de se assistir uns três capítulos. Com as novelas, pude aprender muitas palavras úteis e aprimorar a compreensão ao ouvir os nativos.
            Fiquei por lá 11 meses e retornei com um sotaque muito bom, melhor dizendo, razoavelmente  parecido com o dos nativos
            Ao retornar ao Brasil, comecei a dar aulas e acredito ter melhorado meu desempenho ainda mais. Sinto-me muito à vontade falando inglês  depois de 28 anos de aprendizagem e três idas  aos EUA. Aprendi que sotaque é charme e expressões como: “ Can you say that again?” são de grande valia durante uma conversa com nativos. Gosto muito de falar, ouvir, ler e escrever em inglês e acredito que a minha experiência aprendendo essa língua foi muito estimulante. Não cultivo nenhum bloqueio e até fiz tradução simultânea uma vez. Foi muito bom vencer esse desafio diante de uma platéia de umas quinhentas pessoas. Percebo que cada experiência de sucesso alcançada colabora no sentido de querer mais e mais. É assim que me sinto até hoje.