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Narrativas de aprendizagem de língua inglesa narradas em português

 

Nome: Valdirene Maria de Araújo Gomes
Idade: 29 anos
Escolaridade: Mestrado
Tempo de aprendizagem: 5 anos

Narrativa coletada por Rafaela Oliveira

Rafaela, eu comecei a estudar inglês de forma efetiva aos dezesseis anos. Eu coloquei cinco anos na informação acima porque esse foi o tempo em que estudei inglês na universidade e depois não estudei inglês em nenhuma outra escola. Porém, continuei estudando a língua por conta própria porque me tornei professora de inglês. Portanto, não sei se posso considerar o tempo de aprendizado como de apenas cinco anos.
A minha estória como aprendiz de linguas é a seguinte. Eu morava em uma cidade pequena onde não havia escolas de idiomas. Eu sempre tive vontade de aprender a falar inglês. Estudei inglês da 5a. série ao 3o. ano do ensino médio, mas nunca tive um professor que soubesse a língua ou que soubesse ensinar a língua. Eu não tinha muito acesso a materiais em inglês a não ser os livros da escola, um dicionário e umas poucas fitas. Eu sempre gostei muito de música e na época em que eu estudava no ensino médio havia algumas rádios em que os locutores traduziam letras de música. Eu adorava cantar e tinha verdadeira paixão por músicas internacionais. Então eu gravava as música traduzidas no rádio e depois passava dias e dias tentando remontar a música procurando palavras correspondentes no dicionário. Isso foi há uns 15 anos atrás e naquela época não era como hoje que você pode achar a letra de qualquer música que quiser na Internet. Não era uma tarefa fácil porque eu não sabia ler as transcrições fonêmicas do dicionário, então o meu trabalho era somente tentar achar palavras de significado correspondente e montar as frases. Na maioria das vezes, a música ficava incompleta, mas por incrível que pareça aprendi muito vocabulário e até noções de pronúncia e de ordem dos grupos nominais dessa forma e uma vez, mesmo tendo um conhecimento irrizório da língua inglesa, consegui montar uma música inteira (Baby can I hold you?, Tracy Chapman). Fiz tudo pelo mesmo processo de sempre e tentei confiar nos meus ouvidos. Um dia consegui o encarte de um disco que tinha a música e, comparando a minha tradução com a letra da música, percebi que meu trabalho estava melhorando muito. Os únicos erros que fiz foi ter trocado algumas preposições e ter colocado "ee" no final de palavras como easily porque o meu dicionário não trazia sufixos e eu não tinha muita noção de como era o final dos advérbios de modo.
Iniciei o curso de Letras aos dezesseis anos e tive muita dificuldade nas aulas de inglês apesar da minha grande motivação e aptidão para aprendizado de língua. O meu primeiro professor partia do pressuposto de que todos os alunos já dominavam inglês e dava aulas muito estranhas e mal planejadas (até hoje não sei que método ele utilizava). Decidi fazer as coisa do meu modo. Continuei lendo muito e fazendo as minhas traduções. Eu organizava meus vocabulary files com palavras novas e suas respectivas traduções e transcrições fonêmicas, mas isso dava muito trabalho. Em uma fase mais adiantada do meu aprendizado, abandonei os vocabulary files mistos e tentei agrupar vocabulário em categorias, dessa vez sem traduções e com transcrições apenas para palavras totalmente desconhecidas. Assim, se eu esquecesse o significado de uma palavra, pelo menos saberia a que campo semântico ou categoria gramatical ela pertencia. Continuei também montando as minhas letras de música, mas dessa vez confiando apenas em meus ouvidos. A primeira música que consegui copiar por completo foi Blue Eyes (Elton John). Eu já estudava inglês há um ano na universidade.
Estudar dessa forma parecia bom, mas eu acabei tendo mais fluência escrita do que oral. A minha compreensão auditiva era muito boa e o meu vocabulário era extenso, mas eu quase só conseguia ativá-lo na escrita. Estava na hora de colocá-lo em prática também na fala. Os professores que eu tive a partir do segundo ano na universidade eram muito bons, mas eu era muito tímida e nas aulas de inglês eu nunca falava a menos que o professor fizesse uma pergunta diretamente para mim. Eu tinha muito medo de cometer erros ao falar. Comecei então a ensinar a língua e dessa forma eu me obrigava a falar mais usando o idioma. Comecei também a usar mais as oportunidades de fala que eu tinha tais como falar com os colegas em inglês dentro e fora da sala de aula e ir a lugares onde as pessoas iam para se comunicar em inglês.
Algum tempo depois tive a melhor oportunidade de todas. Fui aos Estados Unidos. Fiquei pouco tempo, mas tive oportunidade de me comunicar muito. Fiquei um mês e meio visitando uma universidade e lá os professores diziam que meu inglês era muito bom, que eu quase não tinha sotaque, que era difícil saber qual era a minha língua materna. Esses comentários me fizeram muito bem porque até então eu pensava que eu tinha um inglês ruim. Lá eu andava sempre com um caderninho anotando tudo que eu via ou ouvia em inglês. No final da minha viagem, eu já estava utilizando expressões até então desconhecidas para mim e tive bastante influência do inglês americano na minha pronúncia, já que até então eu falava um inglês mais próximo do inglês britânico por ter sido essa a variedade que eu aprendi na universidade.
Viajar foi bom para eu tentar buscar outros rumos para o meu inglês porque lá (EUA) todo mundo elogiava o meu inglês, mas é claro, ninguém falava como eu. Hoje em dia tenho me preocupado menos com meu inglês "livresco" padrão e tentado assistir mais a filmes e ler revistas para aprender expressões diferentes. Também entrei em um site de penpals e comecei a me corresponder, não com professores, mas com falantes mais jovens que estão aprendendo a língua e se preocupam também em usar expressões mais atuais.