Share |

Narrativas coletadas por Liliane Sade

 

Aprendiz 15

Nome: Barbra Sabota

Idade: 29 anos

Escolaridade: Mestre

Profissão: Professora

Tempo de contato com o inglês: aproximadamente 11 anos

  

Bem, como iniciar o relato desta trajetória? Acho que pela motivação inicial, sim, mas qual foi?... Minha mãe conta que desde pequena eu falava “coisas enroladas” e dizia falar inglês, mas, conscientemente, destaco dois episódios motivacionais:

Primeiro, uma professora, claro, acredito que todos tenhamos tido um professor que fez a diferença em nossa vida. No meu caso, no meio do caminho havia uma professora de inglês. Cláudia. Ela era muito jovem, 16 anos e acabara de chegar dos Estados Unidos. Eu tinha 12 anos e fazia 6ª série. Logo nos tornamos amigas!! Nos víamos nos fins de semana e “falávamos” inglês enquanto brincávamos de Barbie... bons tempos!! Eu não falava efetivamente a língua, mas sim utilizava algumas poucas palavras em inglês no meio de frases em português, mas na minha imaginação não havia português em nossos encontros... Era tão bom. Pedi a minha mãe que me matriculasse em uma escola para “melhorar” meu inglês, mas não tínhamos condições financeiras para isso. Logo, Cláudia voltou aos Estados Unidos, um professor chato ocupou seu lugar na sala de aula e eu parei de “falar” inglês. Daí, me ocorreu uma idéia genial, colecionar letras de música em inglês. Assim, enquanto minhas amigas gastavam toda a mesada em papéis de carta, eu buscava revistas com letras de música para preencher minha coleção. Orgulhosamente ainda guardo meu troféu, são 426 letras de música e eu sabia muitas de cor!!

Meu segundo momento decisivo em relação à aprendizagem do inglês veio aos 15 - 16 anos com um filme. Eu assisti a Hamlet e me apaixonei, não pelo Mel Gibson, como minhas amigas, mas pelo texto, pela trama, por Shakespeare. Eu tinha que ler aquilo no original e sorver aquelas idéias maravilhosas que me encantavam e, por que não, seduziam. Comprei um livro na ilusão de que entenderia algo... nem cheguei a abrir direito parei no onwards  “que palavra louca – pensei –, nem tem no dicionário!” (Several references from 1589 onwards witness the existence of a play about Hamlet (...), mas não desisti, resolvi que iria ler e entender aquilo tudo. Isso! Meu novo objetivo era ler e entender Shakespeare no original!! Resolvi também que queria ser professora, como a minha querida Cláudia, escrevi-lhe uma carta compartilhando minha resolução. Ela ficou muito feliz e disse que um dia ainda iríamos trabalhar juntas. Passei no vestibular em 1993 e comecei a fazer o curso de Letras na UFG. Estava feliz por finalmente ter a oportunidade de aprender inglês sem pagar um curso, mas apreensiva, pois muitas pessoas falavam que era impossível aprender inglês na universidade. O plano de trabalhar com Cláudia continua on hold, mas o inglês foi aprendido e hoje leciono inglês em vários lugares. Infelizmente, a paixão inicial passou, com tantas atribulações, o inglês é hoje uma ferramenta e não mais o sonho, mas sempre que um tempinho, folheio minha pasta de músicas ou um livro de Shakespeare em busca de inspiração.

Mas, afinal, vocês devem estar pensando, e “como foi que ela aprendeu inglês?!” Bem, uma vez dentro da UFG, senti que a responsabilidade de alcançar meu sonho era minha. Então aproveitei cada chance que me era dada em sala de aula ou fora dela para aprender a língua. No primeiro ano tive um professor excelente que nos motivava a falar inglês desde o início do curso. Eu achava que ele estava um pouco louco em começar por um livro difícil (Headway Pre Intermediate) , afinal muitos na turma não sabiam muita coisa da língua, mas ele era tão determinado e aplicado que decidi confiar nele. Fazia todas as tarefas, participava em todas as aulas (claro que metade das respostas que eu dava pertenciam a letras de música, e, logo meus colegas já começavam a rir e esperar pela música que eu mencionaria em seguida), perguntava tudo o que não entendia.